
Ser, no entanto, exige uma competência que escapa aos limites da condição humana. Há uma profundidade inatingível no ato de ser que nos coloca frente ao abismo daquilo que não podemos alcançar. Estar é simples, passageiro, um reflexo do instante. Ser, por outro lado, requer uma transcendência, uma elevação além da temporalidade e da mutabilidade que marcam nossa existência. O ser humano, ainda prisioneiro de suas imperfeições, não evoluiu a ponto de abraçar essa plenitude. Somos, assim, peregrinos do estar, tateando o caminho incerto da vida, conscientes de que o ser, essa forma plena e imutável, permanece um ideal distante, reservado para além dos confins de nosso tempo. Nesse movimento, somos convidados a contemplar nossa transitoriedade, e entender que a existência é um devir perpétuo, uma sucessão de momentos que jamais se fixam em uma identidade única. E talvez, no reconhecimento de nossa incapacidade de ser, encontremos uma sabedoria maior: a aceitação de que a vida, em sua constante mutação, nos ensina a abraçar o mistério da impermanência, o sublime daquilo que está, mas nunca será inteiramente.
