No
livro:
A
Invenção
do Humano,
Harold
Bloom
diz,
que a
consciência
do homem
moderno
nasceu com Hamlet,
de
Shakespeare,
afinal,
seria o tronco,
e todo o
resto
*Freud, Dostoiévski
e
Guimarães Rosa-,
seus
galhos.
A loucura
está
ao longo
da história,
de Hamlet,
de William Shakespeare,
mas há também a
serenidade.
Acima
de tudo sê
fiel a ti mesmo,
Disso se segue,
como a noite ao dia,
Que não podes
ser falso com ninguém.
está neste Hamlet,
no seu confronto
com a
razão
e ganha
uma
das mais
belas
e
dramáticas
leituras.
A razão
do príncipe
só se
justifica através
da
loucura.
Sabe-se
que todas coisas desse
mundo são todas transitórias
e mortais, em si e fora de si
cheias
de tédio, de angústias e de tormentas,
passíveis de infinitos perigos...
as quais nós, que vivemos misturados
a elas e somos parte delas, não poderíamos
certamente resistir nem evitar se
a especial graça de Deus não
nos emprestasse
força e sagacidade."
O
discurso caberia na boca de Hamlet, ou Macbeth, não fosse a conclusão
tão
reverente ao Altíssimo.
Aparentemente devoto,
Boccaccio esclarece,
logo na
introdução, que sua novela não é direcionada a Deus, mas
ao juízo dos homens.
Ou à sua
falta de juízo. "Decameron" é um decálogo de desvios, um paraíso de
putas ardilosas, freiras volúveis, padres ladrões e bandidos de toda a espécie.
Os
bustos de mármore do
Império Romano também seduzem por seus defeitos.
Narigudos, papudos e olheirudos, se distanciam do ideal olímpico dos gregos.
Admiro a
Vênus e a Samotrácia
tanto quanto os Tintorettos da Scuola de San Rocco, mas as
rugas romanas me provocam o mesmo deleite dos rostos
da Renascença, ou dos
pecadores
de Boccaccio; elas revelam
os anseios, a fragilidade, a torpeza
e a
mortalidade de gente como eu e você.
Gosto
também de admirar
o modelo em cera do casal
de Australopithecus
afarensis
caminhando abraçado
pela planície de Laetoli, no
Museu de História Natural
de
Nova York.
O par de macacos bípedes
passeia enlaçado, enquanto
admira a
paisagem ancestral.
São Adão e Eva encarnados
e não destoam dos
"sapiens"
apaixonados.
Difícil
mesmo é reconhecer
o que há de humano
nos games interativos
que meu filho
adolescente joga sem parar,
com seus amigos
reais ou virtuais.
Quando o
vejo aos berros,
imerso na batalha imaginária,
tenho dificuldade de acreditar
que, algum dia, Hamlet
fará sentido para ele
e temo, como a mais
retrógrada
das santas
inquisidoras, pelo futuro
da humanidade.
Há
mais coisas no céu e terra,
Horácio, do que
foram sonhadas
na sua filosofia.