Rebel: Imagens, palavras...a essência... a natureza

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sábado, 13 de novembro de 2021

Child III

A infância 
nunca nos 
abandona.
Lembro 
da minha infância...
nesta imagem... 
o rio era 
constante 
nas manhãs 
e tardes...
na vila Bressan.
Tem que dar valor para os amigos ainda mais aqueles do tempo antigo.
Meu tempo de criança e juventude... 
Éramos....Humildes mas trabalhadores..
Havia um tempo sim, assim, anos 60.
Quando vivia aqui, era outro tempo, vivi aqui..
Hoje há um olhar 
quase infantil..
ou juvenil,
de tudo foi,
que 
passou,
vendo esta foto.
Havia o medo..
havia a timidez..
Sobretudo coragem...
em todos lados 
numa cidade...
sem nunca ter inveja mas, 
orgulho, deixamos a Villa Bressan para morar em
Iomerê, que
nos acolheu muito bem...
Agora vejo, com 
todos este anos...
Aquele tempo 
era mesmo 
um belo tempo...
Começar..
lá era  o começo 
e seguiu 
um desejo muito intenso
que não se perdeu  
no tempo..
E agora ando correndo tanto...
Talvez..procurando aquele.. 
tempo mais inocente..
mais puro
lugar que em 1963, era
um novo lugar...
meu lugar até hoje.
Aquela  casa nada resta..
que nada me resta 
além da lembrança...
já tá bom
Encontrar alguém  
daquele tempo 
prá ficar batendo papo..
Me recordo também de alguns homens 
que caminhavam devagar, com as golas 
do casaco levantadas e luvas na mão.
Eu os olhava, me perguntava 
se sentiam tanto frio como eu, 
me surpreendia com sua compostura 
e guardava minha curiosidade 
para mim mesmo..
mas, eu senti muito frio..
um inverno de curiosidades.
Vivíamos em um país pobre, 
mas isso era novidade.... sabíamos
que poderíamos ser ricos..
o Brasil podia...
enfim éramos um país pobre 
e continuamos assim...
Na villa de minha infância, 
onde vivia era sobretudo de uma simplicidade a prova, 
não havia luxo, tudo que 
não estava ao alcance 
das  famílias.. por que 
não se sabia.
Viajava a Videira, via os 
que esperavam a hora 
de embarcar em um trem, 
a caminho de Joaçaba.. 
ou de Caçador..
mas a pobreza já deixava 
de ser um destino familiar, 
tínhamos educação, a única herança 
que muitos pais podiam 
deixar para seus filhos.
Entretanto, nesse legado 
havia algo mais,
uma riqueza que perdemos...
o convívio com os padres e seminaristas, 
a celebrações na igreja, a férias com a convivência 
de pessoas que estudavam fora no fim de ano.
Olho para trás e me recordo de tudo, do frio, 
dos silêncios, do nervosismo dos adultos quando se cruzavam com um policial na calçada, de um costume antigo...
medo do delegado. 
Se um pedaço de pão caía ao chão, 
nos obrigavam a recolhê-lo e  devolvê-lo à cesta de pão, porque houve muita fome em nossas casas, 
tínhamos muito cuidado, com o pão de todo dia.. 
A cidade parava quando morreram aquelas 
pessoas queridas de quem ninguém queria nos falar.
Uma maneira de ser humilde mais digno, 
sem deixar de ser solidário, sem deixar de lutar 
por seu futuro, sem nunca se dar por vencido.
Nem mesmo nos 60 da feroz ditadura 
que foram os frutos daquela guerra maldita, 
com esquerda se conseguiu evitar que seus amigos prosperassem.. que se apaixonassem, 
que tivessem filhos, que fossem felizes.
Na minha querida  
a felicidade era também 
uma maneira de resistir...
a todas as dificuldades.
Depois nos disseram 
que era preciso continuar 
a esquecer...algumas mágoas.. 
Que para construir a vida 
era imprescindível 
olhar para frente, fazer como se nunca tivesse 
acontecido nada por aqui. 
Assim,  sem renegando  o momento sobretudo, 
não perdemos os vínculos com nossa própria infância.
Nossas referências que agora nos deixam assim.. 
com palavras vinda do coração.. o lugar é um tesouro que não se compra com dinheiro.
Assim, nós, hoje, mais que  felizes, 
estamos gratos, mas as vezes abismados 
em uma confusão paralisante  do país.. 
Sentimos meio que desorientados 
como um menino mimado de quem tiraram 
os brinquedos e que não sabe protestar, 
reclamar o que era seu, denunciar 
o roubo, deter os ladrões.
Se nossos avôs nos vissem, 
primeiro morreriam de rir, depois morreriam de pena.
Porque para eles isso não seria uma crise, mas um leve contratempo.
Basta olhar...
aqui 
é um belo lugar 
era meu lugar...não mais igual a agora.