Autores
reuniram evidência para
mostrar que o artista foi alvo
de um disparo acidental
e quis poupar assassinos.
Não houve o suicídio de Van Gogh.
Não houve o suicídio de Van Gogh.
Em volume de mais de mil páginas,
Steven Naifeh e Gregory White Smith
esmiúçam toda a vida do impressionista.
Por trás do cromatismo visceral
de suas telas
de suas telas
e de suas composições estonteantes,
Vincent Van Gogh, morto aos 37 anos,
em 1890, foi um louco, solitário
e atormentado.
Sua arte,
como atesta a mais extensa biografia
escrita sobre o impressionista
até hoje, seria resultado de uma
"vontade heroica de viver"
"Ele
sofria de uma solidão
desesperadora,
desesperadora,
não se
dava bem com ninguém,
tinha
surtos psicóticos, sífilis
e um
tipo raro de epilepsia",
que os
autores de "Van Gogh -
A Vida",
lançado no Brasil.
"É
difícil imaginar que
mesmo nesse
quadro
depressivo,
ele se
levantava da cama todos
os dias
para fazer as suas telas."
No
volume de mais de mil páginas,
Naifeh e Gregory White Smith,
mergulham
nos ínfimos detalhes
da vida
conturbada de Van Gogh.
De sua
infância na
Holanda à passagem
Holanda à passagem
por
Paris e
o fim da vida no interior
da
França, constroem um diário
do
artista a partir de
sua correspondência
com o
irmão Theo
e de relatos da época.
"Sou
um fanático", escreveu Van Gogh.
"Sinto
um poder dentro de mim que
não
posso apagar
e preciso manter aceso.
Fico
irritado quando me dizem
que é
arriscado
se
lançar ao mar.
Há
segurança no olho do furacão."
Por um
lado, o livro reafirma
os
estereótipos
do
artista delirante,
que
plasmou a sua visão de mundo
com
base no turbilhão mental que o atormentava.
Mas,
por outro, lança mão de novos argumentos
para
rever alguns episódios na vida de Van Gogh,
entre
eles o seu suposto suicídio.
Sustentam
que Van Gogh foi vítima
de um
assassinato acidental,
alvejado
pela arma de verdade de um garoto
que
brincava de caubói.
Segundo
os autores, o ângulo do tiro,
a
distância que a bala percorreu
e o
fato de ter atingido o estômago
do
artista refutam a tese de um suicídio.
"Ninguém
que tenta se matar atira
na
própria barriga, que é uma forma
muito
dolorosa de morrer",
diz
Naifeh. "Ele morreu nos braços do irmão
depois
de 48 horas agonizando.
Também
a distância do tiro
foi
grande demais para que ele estivesse
segurando
a arma.
Sem
contar que ele havia escrito
em
várias ocasiões que o suicídio
é um
exemplo de covardia moral."
MUTILAÇÃO
E SUICÍDIO
Em
contraponto, o célebre episódio
em que
Van Gogh cortou
sua orelha direita
teria
ocorrido, na versão dos autores,
durante
um surto psicótico do artista,
um
contexto diferente
do da
morte, em que ele estava lúcido.
"Van
Gogh foi muito coerente.
Não é
possível fazer
qualquer ilação
entre
esse ato de mutilação
e sua suposta
vontade
de morrer".
"Uma
pessoa que
se mutila quer
ser
resgatada,
tenta
chamar atenção
para a própria miséria,
mas não
quer acabar
com a sua vida."
No
caso, Van Gogh cortou
a própria orelha
depois
de uma briga
com Paul Gauguin,
que
então vivia com
ele em Arles.
Gauguin
havia se
mudado
para o
interior da França para
cuidar
de Van Gogh
a
pedido de seu irmão Theo,
e
recebia dinheiro por isso,
numa
amizade por contrato.
Quase
todas as relações estáveis
de Van
Gogh, aliás, seguiam
o mesmo
arranjo.
Sua
única mulher, uma prostituta,
passava
os dias com ele
em
troca de dinheiro.
Seus
modelos também relatavam
que ele
os obrigava a posar e
que era
louco e agressivo.
Talvez
pela falta de traquejo social,
Van
Gogh focasse mesmo
em paisagens
e
naturezas-mortas.
O
artista tinha sérias dificuldades
em
retratar a figura humana,
em
especial duas pessoas
em
perspectiva.
Em seu
famoso retrato do
carteiro
de Arles,
é
visível o esforço em mimetizar na
tela as
mãos do personagem, q
ue
resultam distorcidas e estranhas.
Mesmo
assim, Van Gogh gostou
tanto
do resultado que copiou
essas
mesmas mãos
em
outros quadros que pintou,
até de
mulheres.
"Ele
ficava tão desesperado
na
tentativa de desenhar figuras
humanas,
que acabava fazendo
quase
caricaturas".
"Mas
são sempre arrebatadoras.
Sua
memória absorvia tudo o que via,
tinha
um foco maníaco."
Fora as
visões acumuladas,
Van
Gogh aproveitava seu isolamento
para
mergulhar nos livros.
Lia em
quatro línguas e
releu
mais de uma vez a obra
de Charles Dickens e William Shakespeare,
mas
também livros de autoajuda
e
poesia romântica alemã.
No
livro, os autores argumentam
que
tudo isso, das visões psicóticas
do
artista à interpretação desse
arsenal
de leituras, aparece nas telas.
"Sua
obra é sempre um embate
entre
decisões tomadas de antemão
e suas
tentativas frustradas
diante do quadro".
"As
combinações de cor
que ele usava
são
únicas e nada
convencionais.
Ele
pintava com fúria,
mas não
quer
dizer que era
aleatório.
Ele era
rápido e inteligente."
Um tiro
ecoa.
Ele
tropeça,
o irmão
leva
para sua cama,
fuma
seu cachimbo
e um ou
dois dias
depois morre.
Agora,
é razoável esperar que,
por um
corretivo a
sua biografia,
o
suficiente para recalibrar
tudo já
escrito sobre ele.
Sua loucura é
demasiado grande
para que a
psicologia possa tratá-la.
Sua pintura é poesia pura.
Sua escrita, pura pintura.
Sua pintura é poesia pura.
Sua escrita, pura pintura.