Aceitar o que é,
deixar ir o que era,
ter fé no
que vai ser...
que vai ser...
O esquecimento não
é só uma viés da vida,
como creem os dotados
de espíritos superfinos..
antes é um poder ativo,
uma faculdade moderadora,
à qual devemos o fato de
que tudo,
quanto nos acontece na vida,
tudo quanto absorvemos,
se apresenta à
nossa consciência durante
o estado da digestão..
que poderia chamar-se
absorção física,
do mesmo modo que
o multíplice
processo da assimilação
corporal
tão pouco fatiga
a consciência.
Fechar de quando em quando
as portas e janelas da consciência,
permanecer insensível
às ruidosas lutas do mundo subterrâneo
dos nossos órgãos..
fazer silêncio e tábua rasa da
nossa consciência,
a fim de que aí haja lugar
para as funções
mais nobres para governar,
para rever, para pressentir,
(porque o nosso organismo
é uma verdadeira oligarquia)..
eis aqui, repito, o ofício desta
faculdade ativa,
desta vigilante guarda encarregada
de manter a ordem física,
a tranquilidade, a etiqueta.
Donde se
TEM que
TEM que
nenhuma
felicidade,
nenhuma serenidade,
nenhuma esperança,
nenhum gozo presente
poderiam existir
sem a faculdade
do esquecimento.
Friedrich Nietzsche,
in "A Genealogia da Moral".