Tem que dar valor para os amigos ainda mais aqueles do tempo antigo.
Meu tempo de criança e juventude...
Éramos....Humildes mas trabalhadores..
Havia um tempo sim, assim, anos 60.
Quando vivia aqui, era outro tempo, vivi aqui..
Hoje há um olhar
quase infantil..
ou juvenil,
de tudo foi,
que
passou,
vendo esta foto.
Havia o medo..
havia a timidez..
Sobretudo coragem...
em todos lados
numa cidade...
sem nunca ter inveja mas,
orgulho, deixamos a Villa Bressan para morar em
Iomerê, que
nos acolheu muito bem...
Agora vejo, com
todos este anos...
Aquele tempo
era mesmo
um belo tempo...
Começar..
lá era o começo
e seguiu
um desejo muito intenso
que não se perdeu
no tempo..
E agora ando correndo tanto...
Talvez..procurando aquele..
tempo mais inocente..
mais puro
lugar que em 1963, era
um novo lugar...
meu lugar até hoje.
Aquela casa nada resta..
que nada me resta
além da lembrança...
já tá bom
Encontrar alguém
daquele tempo
prá ficar batendo papo..
Me recordo também de alguns homens
que caminhavam devagar, com as golas
do casaco levantadas e luvas na mão.
Eu os olhava, me perguntava
se sentiam tanto frio como eu,
me surpreendia com sua compostura
e guardava minha curiosidade
para mim mesmo..
mas, eu senti muito frio..
um inverno de curiosidades.
Vivíamos em um país pobre,
mas isso era novidade.... sabíamos
que poderíamos ser ricos..
o Brasil podia...
enfim éramos um país pobre
e continuamos assim...
Na villa de minha infância,
onde vivia era sobretudo de uma simplicidade a prova,
não havia luxo, tudo que
não estava ao alcance
das famílias.. por que
não se sabia.
Viajava a Videira, via os
que esperavam a hora
de embarcar em um trem,
a caminho de Joaçaba..
ou de Caçador..
mas a pobreza já deixava
de ser um destino familiar,
tínhamos educação, a única herança
que muitos pais podiam
deixar para seus filhos.
Entretanto, nesse legado
havia algo mais,
uma riqueza que perdemos...
o convívio com os padres e seminaristas,
a celebrações na igreja, a férias com a convivência
de pessoas que estudavam fora no fim de ano.
Olho para trás e me recordo de tudo, do frio,
dos silêncios, do nervosismo dos adultos quando se cruzavam com um policial na calçada, de um costume antigo...
medo do delegado.
Se um pedaço de pão caía ao chão,
nos obrigavam a recolhê-lo e devolvê-lo à cesta de pão, porque houve muita fome em nossas casas,
tínhamos muito cuidado, com o pão de todo dia..
A cidade parava quando morreram aquelas
pessoas queridas de quem ninguém queria nos falar.
Uma maneira de ser humilde mais digno,
sem deixar de ser solidário, sem deixar de lutar
por seu futuro, sem nunca se dar por vencido.
Nem mesmo nos 60 da feroz ditadura
que foram os frutos daquela guerra maldita,
com esquerda se conseguiu evitar que seus amigos prosperassem.. que se apaixonassem,
que tivessem filhos, que fossem felizes.
Na minha querida
a felicidade era também
uma maneira de resistir...
a todas as dificuldades.
Depois nos disseram
que era preciso continuar
a esquecer...algumas mágoas..
Que para construir a vida
era imprescindível
olhar para frente, fazer como se nunca tivesse
acontecido nada por aqui.
Assim, sem renegando o momento sobretudo,
não perdemos os vínculos com nossa própria infância.
Nossas referências que agora nos deixam assim..
com palavras vinda do coração.. o lugar é um tesouro que não se compra com dinheiro.
Assim, nós, hoje, mais que felizes,
estamos gratos, mas as vezes abismados
em uma confusão paralisante do país..
Sentimos meio que desorientados
como um menino mimado de quem tiraram
os brinquedos e que não sabe protestar,
reclamar o que era seu, denunciar
o roubo, deter os ladrões.
Se nossos avôs nos vissem,
primeiro morreriam de rir, depois morreriam de pena.
Porque para eles isso não seria uma crise, mas um leve contratempo.
Basta olhar...
aqui
é um belo lugar
e
era meu lugar...não mais igual a agora.