domingo, 5 de janeiro de 2020
CO2, o mistério do carbono
Está claro...
não chegamos a um ponto de não retorno,
ou sem retorno ...
e é possível isso,
e é possível
que isso nunca aconteça.
As florestas mundiais ainda absorvem grande quantidade de carbono.
e são importantes para a absorção global de carbono.
"Acho que temos..
as 'forças do crescimento'
e as 'forças da morte'
tudo com o consumo está se fortalecendo,
e isso vem acontecendo há algum tempo",
"As forças da morte chamam mais a atenção,
mas as forças do crescimento vêm sendo mais importantes até agora."
projetar o futuro das florestas ainda são tentativas opacas ou grosseiras.
Algumas dessas previsões avisam que as mudanças climáticas podem provocar a morte potencialmente ampla de florestas em lugares como a Amazônia
outras indicam que as florestas continuarão a atuar como robustas esponjas de carbono ao longo do século 21.
"Não estamos completamente cegos,
mas não estamos em boa forma", disse William R. L. Anderegg, pesquisador da Universidade Stanford, na Califórnia.
Muitos cientistas afirmam que, para assegurar a saúde das florestas do mundo, é preciso reduzir as emissões humanas de gases estufa. A maioria dos países assumiu um compromisso em um tratado ambiental global de 1992, mas duas décadas de negociações renderam poucos avanços.
Os especialistas dizem que medidas mais modestas poderiam ser tomadas no curto prazo para proteger as florestas. Um plano pede que países ricos paguem os países da zona tropical para que suspendam a destruição de suas florestas imensas, desmatadas para finalidades agrícolas e de extração da madeira.
Mas agora até mesmo esse plano está em risco, por falta de dinheiro. Outras estratégias, como reduzir a densidade de florestas densas demais no oeste americano para torná-las mais resistentes a incêndios e pragas de insetos, também sofrem por falta de dinheiro. Assim, ao mesmo tempo em que as potenciais soluções para os problemas das florestas demoram a ser implementadas, os sinais de problemas graves se avolumam, em todo o mundo.
Muitos cientistas esperavam que as florestas não começassem a apresentar danos sérios antes de meados do século 21 e que antes disso fosse possível controlar as emissões de gases que prendem o calor na atmosfera. Alguns cientistas estão chocados com o que têm visto nos últimos anos.
"A área que vem queimando na Sibéria é simplesmente assustadora", disse Thomas Swetnam. "Os grandes incêndios que vêm acontecendo no sudoeste dos EUA são fora do comum por sua intensidade, e isso falando em uma escala de tempo de milhares de anos.
Se continuarmos nesse ritmo no resto do século, ao menos metade da paisagem florestada do sudoeste dos EUA pode ser perdida."
O mistério do carbono
Como revelam os pesquisadores, os oceanos absorvem cerca de um quarto das emissões de carbono geradas por atividades humanas. Isso está levando o mar a ficar mais ácido, e a previsão é que prejudique a vida marinha ao longo do tempo. Mas os efeitos químicos são mais ou menos previsíveis, e cientistas têm razoável confiança em que os oceanos continuem a absorver carbono por muitas décadas.
As árvores absorvem um volume semelhante de carbono, mas é menos garantido que isso vá continuar, como ilustram os danos recentes sofridos por florestas.
Todos os tipos de plantas absorvem dióxido de carbono, conhecido como CO2, mas a maioria delas o devolve à atmosfera em pouco tempo porque sua vegetação se decompõe, é queimada ou comida. São principalmente as árvores que têm o poder de armazenar carbono por longos períodos, o que fazem ao gerar madeira ou transferir carbono pra o solo. A madeira pode permanecer por séculos em uma árvore viva e leva tempo para se decompor, mesmo quando a árvore morre.
Mas o carbono na madeira é vulnerável à liberação rápida. Quando uma floresta é queimada, por exemplo, boa parte do carbono volta para a atmosfera. A destruição por incêndios e insetos faz parte da história natural das florestas, e, isoladamente, acontecimentos como esses não seriam motivo de preocupação.
De fato, a despeito dos problemas recentes, uma nova estimativa, divulgada em 19 de agosto pelo periódico "Science", sugere que, quando as emissões geradas pela destruição de florestas são subtraídas do carbono que absorvem, elas ainda colocam mais de 900 milhões de toneladas métricas de carbono por ano em armazenagem de longo prazo.
Uma razão importante disso é que as florestas, assim como outros tipos de vegetação, parecem reagir ao aumento do dióxido de carbono na atmosfera, crescendo mais vigorosamente.
Afinal, o gás é a principal fonte de alimento das plantas. Nos últimos anos, cientistas se surpreenderam ao descobrir que esse fator vem provocando um surto de crescimento até mesmo em florestas maduras, descoberta que contrariou décadas de dogma ecológico.
As pessoas que negam a ocorrência das mudanças climáticas tendem a focar este "efeito fertilização", saudando-o como uma dádiva para as florestas e a fonte de alimentos. Afirmam que esse efeito vai continuar no futuro previsível, aliviando quaisquer impactos negativos que o aumento das temperaturas possa ter sobre o crescimento das plantas.
Ao mesmo tempo em que dizem que a fertilização decorrente do CO2 é real, cientistas que aderem à visão majoritária dizem que o excesso de calor e falta de água associados às mudanças climáticas estão tornando as florestas vulneráveis a ataques de insetos, incêndios e outros problemas.
"As florestas levam um século para alcançar a maturidade no crescimento", disse o cientista canadense Werner A. Kurz, especialista importante no carbono florestal. "É preciso apenas um evento climático extremo, um único ataque de insetos, para interromper aquela absorção de carbono que já durava um século."
É possível que as reduções florestais recentes mostrem ser transitórias -que talvez seja coincidência o fato de todas terem ocorrido mais ou menos ao mesmo tempo. Para os especialistas, a possibilidade mais preocupante é que as reduções florestais sejam apenas a vanguarda de uma transformação mais abrangente.
"Se isto estivesse acontecendo apenas em alguns poucos lugares, seria mais fácil negar ou descartá-lo", disse David A. Cleaves, assessor sênior do Serviço Florestal dos Estados Unidos. "Mas não. Está acontecendo em todo lugar. Não há como deixar de indagar 'qual é o elemento comum em ação?'."
Rastreando um fluxo
Em todas as florestas, o carbono é absorvido pelo crescimento de árvores e outros organismos e liberado quando os organismos morrem ou entram em estado de dormência. Esses fluxos de carbono, como são conhecidos, variam ao longo do dia, segundo as estações do ano, de acordo com extremas climáticos, segundo a saúde das florestas e em decorrência de muitos outros fatores.
Em alguns lugares, temperaturas mais altas podem beneficiar o crescimento das árvores ou levar florestas a se expandirem para áreas antes ocupadas por pradarias ou tundra, com isso armazenando mais carbono.
Florestas vêm renascendo em terras agrícolas abandonadas em enormes extensões da Europa e Rússia. Em um esforço para reduzir o avanço de um deserto, a China plantou quase 40 milhões de hectares de árvores, e também essa floresta vem absorvendo carbono.Mas, como estratégia para administrar as emissões de carbono, estas florestas em recuperação têm uma limitação importante: o planeta simplesmente não tem espaço para muitas ais. Sua ampliação significativa exigiria que mais terras agrícolas deixassem de ser cultivadas -uma perspectiva improvável.
Os riscos climáticos estão entrando em evidência mesmo em florestas que hoje estão relativamente saudáveis, como as da Nova Inglaterra. Por exemplo, insetos invasores que antes morriam nos invernos gelados agora estão previstos para se disseminar mais facilmente no norte do planeta.
Incêndios e insetos
Arrancando a casca de uma árvore com uma machadinha, Diana L. Six, cientista da Universidade de Montana especializada em insetos, apontou para os sinais reveladores de infecção por "pine beetle", ou besouro dos pinheiros (Dendroctonus ponderosae): canais perfurados pelos bichinhos enquanto consomem a parte suculenta da árvore.
A árvore que ela mostrava já estava morta. Suas agulhas, que deveriam ter cor verde profunda, exibiam o tom avermelhado e doentio que virou tão comum no montanhoso oeste dos Estados Unidos. Pelo fato de os besouros terem cortado o caminho dos nutrientes da árvore, a clorofila que tornava as agulhas verdes estava se decompondo, deixando apenas compostos avermelhados.
Os besouros dos pinheiros são uma parte natural do ciclo de vida nas florestas do oeste americano, mas o surto atual, que em algumas áreas vem ocorrendo há mais de uma década, é de longe o mais extenso já registrado.
Cientistas dizem que antigamente a temperatura caía para 40 graus negativos nas montanhas a cada poucos anos, matando muitos dos besouros. "Isso não acontece mais", disse um cientista climático renomado da Universidade de Montana, Steven W. Running, que visitava o cenário com Diana Six recentemente.
Com o aquecimento do clima, várias espécies de besouros vêm se multiplicando e semeando o caos na paisagem norte-americana. A situação é mais grave na Colúmbia Britânica, que já perdeu milhares de árvores.
O besouro dos pinheiros das montanhas já avançou mais para o norte do Canadá do que jamais antes na história registrada. Os insetos transpuseram as Rochosas e chegaram a Alberta, provocando o medo crescente de que possam se espalhar por todo o continente nas próximas décadas.
"Muitos ecologistas como estão começando a pensar que todos esses agentes, como insetos e incêndios, são apenas as causas aproximadas, e que a causa real é a escassez de água causada pelas mudanças climáticas", disse Robert L. Crabtree, diretor de um centro que estuda a região de Yellowstone, em Montana. "Não importa realmente o que exatamente é que mata as árvores -elas estão a caminho de desaparecer. A grande pergunta é 'será que vão voltar a crescer?'. Se isso não acontecer, é bem possível que soframos uma perda catastrófica de nossas florestas."
Esforços paralisados
Cientistas estão chegando a uma constatação chocante: é possível que já não existe na Terra algo que possa ser descrito como uma floresta natural.
Por mais selvagens possam parecer, as florestas -desde as profundezas da Amazônia até os lugares mais remotos da Sibéria- estão reagindo a influências humanas, entre elas o nível crescente de dióxido de carbono no ar.
Nos últimos anos já foram tomadas medidas para proteger florestas; por exemplo, milhões de hectares de florestas em áreas públicas e privadas foram designadas reservas de conservação. Mas outras ideias estão paralisadas por falta de verbas.
Grandes áreas de floresta de pinheiros no oeste dos EUA são um exemplo. O consenso científico é que nos últimos cem anos essas florestas foram mal administradas, em parte pela supressão de incêndios de baixa intensidade.
Em uma escala ainda maior, especialistas citam a falta de dinheiro como algo que está pondo em risco um programa para adiar ou sustar a destruição humana de florestas tropicais.
O desmatamento, normalmente para dar lugar à pecuária ou agricultura, vem sendo feito há décadas, com destaque para o Brasil e a Indonésia.
A queima de florestas tropicais não apenas acaba com sua capacidade de absorção do carbono, como gera um fluxo imediato de carbono de volta à atmosfera, tornando-se uma das maiores fontes de emissões de gases estufa.
Os países ricos concordaram em princípio em pagar grandes valores de dinheiro a países mais pobres, desde que estes protegessem suas florestas.
Os países ricos já prometeram quase US$5 bilhões, o suficiente para dar início ao programa, mas muito mais dinheiro do que isso era previsto ao longo do tempo.
A ideia era que os países ricos criariam maneiras de cobrar taxas de suas empresas pelas emissões de dióxido de carbono e que parte desse dinheiro poderia fluir para o exterior, para a preservação de florestas.
A legislação climática foi paralisada nos EUA, em meio à oposição de parlamentares preocupados com seus efeitos econômicos, e alguns países europeus também recuaram diante da obrigação de mandar dinheiro para o exterior. Isso significa que não está claro se o programa de florestas vá ser posto em ação de maneira substancial.
"Como qualquer outro esquema grandioso para melhorar a condição humana, é precário porque suas ambições são tão grandiosas", comentou William Boyd, professor de direito da Universidade do Colorado que está trabalhando para salvar o plano.
A grande esperança para o programa, agora, é que a Califórnia -decidida a combater o aquecimento global- autorize indústrias a cumprirem suas regras, em parte financiando esforços para reduzir o desmatamento florestal. A ideia é que os outros Estados ou países sigam seu exemplo.
Mas cientistas destacam que, no final, os programas que visam conservar florestas -ou torná-las mais resistentes a incêndios, ou, ainda, plantar novas florestas- constituem medidas apenas parciais.
Para assegurar que as florestas sejam salvas para as gerações futuras, eles dizem, a sociedade precisa limitar a queima de combustíveis fósseis, que está alterando o clima do mundo.
FONT NYT