SEM razões

HÁ NO AR 
UM CERTO  GOSTO 
OU 
SENSAÇÃO....
DE INSATISFAÇÃO..
COM... 
SEM..
razões..
claras 
ou não 
ou muito claras.

Pessoas como eu,
na meia-idade, 

profissão definida,
família normal
e saúde legal, 

e ainda assim dentro de mim 

um não-sei-o-quê perturbador,
algo 

que me incomoda,
mesmo estando tudo bem...
respirando o ar puro da natureza, 
ouvindo os pássaros...
curtindo o verde.. 

De onde vem isso?

Marina Lima..

dizia: “Eu espero/acontecimentos/

só que quando anoitece/

é festa no outro apartamento”. 

Eu já tive isso,
passei muito tempo assim com esta sensação: 

a de que algo muito melhor que meu canto,
mais animado imaginava que estava 

acontecendo em algum lugar para o 

qual eu não tinha sido convidado.

A vida tem muitas características,
e uma delas que em determinados momentos
como a  juventude:
a gente considerara-se deslocado
e impedido de ser feliz como os outros são

ou aparentam ser. 

Só que chega uma hora em que é preciso deixar de ficar tão ligado nos outros...que fazem que tem e mais no que temos, que seremos.

As “festas em outros  recantos”

são fruto da nossa imaginação, 

muitas infectadas
por falsos holofotes,
falsos sorrisos
e
falsas notícias.
Os outros não são tão notáveis como a gente acha,

alardeiam muito suas vitórias,
mas falam pouco das suas angústias,
revelam pouco suas aflições,
não dão bandeira das suas fraquezas,
então fica parecendo que todos
estão comemorando grandes paixões
e fortunas,
quando na verdade não é tudo isso que imaginamos na vida dos outros ou de suas festas ou no recanto lá fora,
talvez não está tão animada assim...como imaginamos.

Ao amanhecer, descobrimos o sol.. a aurora, que 
a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma. 
Estamos todos no mesmo barco,
com motivos pra dançar pela sala
e também motivos pra se refugiar no escuro, alternadamente. 
Só que os motivos para alguém,
se refugiar no escuro raramente são obscuros ou ningué diz ou divulga. 
Pra consumo externo, todos são belos, sexys, lúcidos, íntegros, ricos, sedutores.
 “Nunca conheci quem tivesse levado porrada/todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo”. 
Fernando Pessoa...
 também já se sentiu abafado pela perfeição alheia, e olha que na época em que ele escreveu estes versos não havia esta overdose de revistas 
que há hoje, vendendo um mundo de faz-de-conta.

Nesta era de exaltação de celebridades

a maioria não tão reais 

e grande parte inventadas, e muito vão nesta ilusão que a vida da gente tem graça..fica mais difícil  se mesmo achamos tudo verdadeiro . 

Mas tem...a nossa vida de verdadeiro....

Paz interior,
amigos leais,
nossas fotos,
nossos músicas,
nosso livros,
fantasias, desilusões e recomeços,
tudo isso vale a pena mesmo.. na nossa vida. 

Ou será tão tudo tão assim divertido.. pessoas das revistas.. um faz de conta, fotografando junto a produtos de  patrocinadores..

Compensa passar a vida comendo alface para ter o corpo..assim..
Bem eu acho que compensa ter  uma vida saudável.. comendo bem.. coisas naturais.

Será tão gratificante  jovens famosos, de hoje, com um paparazzo na sua cola toda hora..cada vez que sai de casa..vendo os famosos.. acho que a privacidade tem algo inegociável. 

Eu junto a natureza..
mas sei de muitos que  como eu estão realizando um milhão de coisas interessantes
enquanto alguns sós  sentadas(os)
no sofá vendo o Jornal Nacional....

Favor não confundir uma vida sensacional 

com uma vida sensacionalista. 

As melhores festas costumam acontecer 

dentro do nosso próprio canto...

e com nós presentes.