Pode imaginar o fogo /Que o teu frio olhar contém. //Quem na vida tem amores /Não pode viver contente, /É sempre triste o olhar /Daquele que muito sente. /Adivinhar o mistério /Da tua alma quem me dera! /Tens nos olhos o outono, /Nos lábios a primavera... /Enquanto teus lábios cantam /Canções feitas de luar, /Soluça cheio de mágoa /O teu misterioso olhar... /Com tanta contradição, /O que é que a tua alma sente? /És alegre como a aurora, / triste como um poente... /Desabafa no meu peito /Essa amargura tão louca, /Que é tortura nos teus olhos / E riso na tua boca! /Os teus dentes pequeninos /Na tua boca mimosa, /São pedacinhos de neve /Dentro de um cálice de rosa. /O lindo azul do céu /E a amargura infinita /Casaram./Deles nasceu /A tua boca bendita!... ...(Florbela Espanca)..