Ana III

Eu amei uma mulher, chamada Ana, em Pelotas onde estudei. Ela me chamava de Antônio, eu já morava em Porto Alegre, acabando o estágio de sexto ano de Medicina...quando vinha me ver, dizia,

Querido, queridinho...
tão bom poder seu nome e voltar a pronunciar
essas palavras aqui tão perto...te amo, chamá-lo assim...carinhosamente,
ternamente, meu querido, meu amor...
Como você está, meu anjo
E longe escrevia cartas e dizia...
Espero que você esteja bem, assim como seus estudos e pacientes..
No fim de ano...dizia.:

Ano Novo ... novos planos, novas esperanças,
novos sonhos, novos projetos...renovação... renovar...aperfeiçoar ...
melhorar nosso interior...
nossa alma... nosso ser.
De volta a Pelotas depois de dias em Porto Alegre. Cheguei ontem em Pelotas ...hoje estou em Jaguarão... fico aqui no Uruguai com minha família, esta semana... volto para Pelotas no próximo domingo ou segunda.

Aí me contava...
Fomos a Punta del Leste, depois que chegamos lá e a cidade estava em ‘festa’... muita gente... o hotel onde ficamos era à beira-mar, perto de umas cabanas ... música alta o dia todo... uma noite, era nosso 3º dia ali, não conseguimos dormir pela música alta... e você já imagina o tipo de música... pagode, tinha muitos brasileiros etc, levantei de madrugada, outros hóspedes de pé, reclamando também...
Resolvemos sair, mudar de lugar na cidade, mesmo com parte das diárias já pagas antecipadamente... mas fomos então para lugares mais longe.... tinha uma estrada de terra ... havia visto uma reportagem sobre esse lugar... liguei para uma pousada... fiz reservas... ficamos esses dias todos lá... um lugar lindo... maravilhoso... silencioso... poucas pessoas... a praia praticamente para nós... conhecemos o litoral um pouco mais ao sul... até próximo a Montevideo... foi deslumbrante...
Fiz caminhada todos os dias ... de manhã e no finalzinho da tarde... bronzeei-me pouco... usei um alto número de proteção solar... apenas no segundo dia minha pele sofreu uma reação alérgica... camarão combinado com sol... parecia que tinha uma daquelas doenças da infância...
A lua cheia na praia... estava linda... pensava em você... a mudança de fase.... da lua crescente para a nova... a maré ficou baixa... avançamos metros e metros além da praia com a água a nos bater no joelho...
Em uma das praias... não era areia... mas sim argila... por vezes dura... por vezes mais mole... afundando um pouco sob nosso peso,  foi maravilhoso.
Descansei bastante, querido ...
Apesar da distância... da nossa ausência de contatos... você ficou em meus pensamentos todos esses dias, meu amor... sempre que íamos para uma praia diferente, com algo diferente, inusitado... pensava em você...
À noite... ficava a ouvir o mar... essa música da natureza que ecoava... parecia até que o coração acompanhava o ritmo do mar... aquela cadência... fechava os olhos sentindo o vento ... a brisa... os ruídos da natureza... parecia que o corpo acompanhava o vai-e-vem das ondas... o fluxo e o refluxo... sensação de que a qualquer momento voaria... voaria bem alto... em direção às estrelas... ao infinito...
Aliada a todas essas sensações.... do corpo, da mente... meu espírito também se nutriu de boas leituras... li Saramago e Jostein Gaarder... e um livro técnico... lia nas tardes quentes... ficava na rede lendo .. ou numa cadeira de praia... dessas reclináveis...

Foi uma viagem ótima, querido..
E quanto ao coração... esses dias ele ficou saudoso... saudoso de você... da sua ternura...
Você, meu anjo.... esse ser que soube me conquistar... deixando uma impressão indelével em minh’alma... recuperando em mim sensações que julgava não mais sentir...
Vibrações do amor... essa palavrinha mágica... que nos faz sentirmos vivos... seres integrantes de um todo maior...
És assim... o responsável por esses sentimentos bons que me invadem... que me envolvem... que me acolhem...
Um doce... e longo beijo
em você, querido... Ana.