
Para Camus, a grande revolução existencial não reside na esperança de um desfecho final que conceda sentido à repetição, mas na aceitação lúcida dessa própria repetição como um ato de insubmissão. O homem, ao reconhecer o absurdo da existência ou seja, o divórcio entre sua ânsia de sentido e um universo indiferente, pode responder de duas formas: com o niilismo destrutivo ou com a revolta consciente. Sísifo é a metáfora do homem que, mesmo diante da futilidade de seu esforço, recusa-se a sucumbir ao desespero, encontrando na sua própria luta um espaço para a liberdade. Sua felicidade, portanto, não advém de um consolo metafísico, mas do reconhecimento pleno de sua condição e da decisão de assumir a própria existência sem ilusões. Esse pensamento ressoa na tradição filosófica que valoriza a autonomia da consciência diante do absurdo. Nietzsche, ao propor o amor fati – o amor ao destino –, antecipa essa aceitação afirmativa da vida, assim como Kierkegaard, ao falar do “salto da fé”, aponta para outra solução possível diante do mesmo dilema. A diferença fundamental entre Camus e Kierkegaard, contudo, reside na recusa do primeiro em aceitar qualquer resposta que ultrapasse a imanência do mundo. Para Camus, o sentido não deve ser buscado fora da existência, mas forjado dentro dela, na experiência concreta da revolta..Dessa forma, imaginar Sísifo feliz não é um ato ingênuo ou conformista, mas a mais radical das afirmações existenciais. É uma subversão contra a lógica da resignação e um convite para que o homem, ciente da absurdidade de sua condição, encontre na própria jornada a fonte de seu significado. A felicidade de Sísifo não está no fim da escalada, mas no próprio ato de empurrar a pedra um gesto de insubordinação contra o próprio destino.