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terça-feira, 16 de maio de 2023

Cedo Demais

Cedo demais para sequer pensar em ir a qualquer outro lugar...talvez ao Tibet. Há anos eu tinha vontade de viajar para New York no inverno.
E sabendo, como todos sabemos, como podem ser os invernos tibetanos,
ou novaiorquinos
não pensem que sou masoquista:
uma razão literária
e espiritual me impelia
a realizar esses 2 desejos.
A razão pela qual eu queria estar em New York no inverno
é muito simples
ou quase boba,
conforme a visão,
que se tem, mas era uma exigência
que tinha sido desencadeada
nos já distantes
anos 1970 e me persegue
desde então, intacta,
talvez intensificada
pela passagem do tempo.
Porque foi no final dessa década, enquanto fazia meus estudos universitários,
que primeiro li..."O Apanhador no Campo de Centeio",o romance de J.D.Salinger
que décadas atrás comoveu o mundo
e ainda o comove..
ao menos a mim....
a obra que daria fama eterna àquele escritor enigmático e esquivo,
um dos ícones artísticos do século 20...
O romance. como todos sabem ou deveriam saber,
contam aventuras de um adolescente, desorientado
e inconformado com tudo....
No livro o jovem..protagonista,
perambula por Nova York..durante vários dias.
Em suas andanças, ao chegar ao Central Park...nova-iorquino e ver os patos nadando no lago..Holden.... se pergunta, para onde vão os patos quando o inverno chegar e o lago ficar congelado...
Desde então, essa pergunta também me persegue e, em cada ocasião em que fui a Nova York, fiz a peregrinação até o Central Park para ver o laguinho e seus patos, aparentemente felizes e despreocupados nas águas do lago
mais urbano do mundo.
Então a literatura que me impeliu
num inverno eu pudesse chegar a Nova York.
Eu faria ali uma visita até o Central Park e caminhar em busca do lago.
O laguinho estava parcialmente gelado,
mas...
não completamente.
E, apesar da temperatura que a água devia ter,
vi que ali estavam muito tranquilos
os benditos patos
que tanto preocuparam o Holden Caulfield
de "O Apanhador no Campo de Centeio",
os patos que durante 35 anos também eu quis saber o que faziam durante o inverno....
para descobrir que fazem o mesmo que no verão,
só que em menos espaço e com a água mais fria.

E a única explicação
que agora tenho para a atitude
desses animais é que
são nova-iorquinos demais
para sequer pensar em ir
a qualquer outro lugar:
apesar do frio
e até dos ataques terroristas,
Nova York os cativou,
como fez com o próprio Holden
e com muitos outros milhões de pessoas
que têm prazer em viver
em uma das cidades
mais inóspitas do mundo.
Questão de gosto, não?
Da mesma maneira,
ele deixa de fora Wall Street,
a estátua da Liberdade...
Então, diria que é um guia exato,
mas incompleto.
São locais inventados...certo.
Lendo o livro com cuidado
e consultando um mapa de Manhattan....
Salinger dá várias pistas.
O melhor exemplo é o hotel Edmont.
Ele nos conta
um pouco da rota do táxi
que leva Holden dali
até a estação Penn.
Diz que fica a 41 quarteirões
de Greenwich Village.
Com essas pistas é possível apontar
o local com precisão razoável.
A preocupação de Holden sobre
o destino dos patos
quando o lago congela
como um reflexo de
sua preocupação
sobre para onde ele
irá agora que foi chutado da escola
e sente que não pode
voltar para casa, ou ficar em casa. Eu li que, por causa do livro,
perguntam bastante aos representantes
do parque para onde
vão os patos no inverno.
A resposta é que eles ficam ali mesmo.
Eu vi alguns sobre o gelo em
um dia frio de inverno,
mas eles
também ficam na terra
ou em seus ninhos.
Os patos sabem
cuidar de si mesmos.
Holden, não.
E o Tibet...conto outra vez...
cedo demais...para contar.....