Nós podemos manter hábitos adequados e, ainda assim, ter uma saúde muito ruim, nos moramos numa cidade poluída..tudo se reflete, em nós. Muitas vezes, pensamos que o bem-estar como algo pessoal, atitudes de cuidado pessoal, mas está ligado também ao bem-estar do planeta.Esse é o grande enigma que está confrontando a
humanidade. O bem-estar individual, numa sociedade que está em uma relação doente das pessoas com outras pessoas, das pessoas com a natureza, é uma coisa utópica. É possível se isolar numa bolha. Uma pessoa pode manter hábitos adequados, boa alimentação, exercícios físicos, bom sono, terapia e, mesmo assim, ter uma saúde muito ruim, porque está morando em uma cidade poluída, por exemplo. É o caso de praticamente todas as grandes cidades do planeta. A poluição pode causar câncer de pulmão, mesmo em quem não fuma. Enquanto a gente não resolver o problema da emissão de carbono, não vai conseguir ter saúde nas metrópoles, e a maior parte da população do planeta hoje é urbana. Precisamos compreender o "eu sou porque nós somos". Estamos no mesmo barco, não existe forma de se isolar. Os bilionários, que estão achando que vão fugir do planeta, estão se enganado. É uma falta de compaixão deles que salta aos olhos, mas também é uma ignorância científica, porque não vai ser viável, não vão conseguir. Então, temos que cuidar do que temos agora, é preciso politizar essa questão no melhor sentido. A qualidade da água, a proteção dos mananciais, a poluição ambiental, a poluição sonora,tudo isso é um assunto político. Quando você satura o sistema visual e o sistema auditivo com imagens e sons, qual o espaço da imaginação?
Estamos vivendo um momento de conectividade em tudo. Muito tempo de tela, consumindo muita informação. Como isso influencia o cérebro e o bem-estar.
É um momento bem perigoso, porque ninguém assinou um termo de consentimento livre e esclarecido para deixar as telas entrarem na nossa vida desse jeito. Elas entraram. Na nossa vida, na dos nossos filhos e netos. É uma coisa muito poderosa, porque todos os meios audiovisuais obedecem a lógica de captura da atenção. A tela piscando, mostrando imagens interessantes que não se repetem, num ritmo de edição cada vez mais rápido que faz com que o nosso cérebro fique o tempo todo em alerta. Duas horas de tela seria o recomendado, mas as pessoas estão se auto administrando oito, dez, doze horas. Ninguém quer parar. É uma doença que está obedecendo mecanismos ligados à dependência de drogas ou de qualquer coisa que é mediada por dopamina. O excesso é veneno. Precisamos ter muita autocrítica e reconhecer que não soubemos regulamentar essa questão das telas quando elas chegaram e agora a gente precisa fazer esse trabalho.
Como isso impacta na qualidade de vida, do sono e do sonhar.
Você tocou em um ponto central, o excesso de telas tem impactos em vários níveis. A falta de sono pode trazer problemas cognitivos, emocionais e hormonais. E impacta também no achatamento da experiência do imaginário. *As pessoas estão deixando de ler, ouvir música, fazer teatro, conversar, jogar, brincar, para ficar grudado no smartphone, na tela. Isso significa receber estímulos muito robustos, como os filmes, por exemplo, que são extremamente interessantes, com muito contraste, brilho, cor, som, tudo muito. Mas a imaginação, na verdade, se alimenta do pouco, da falta que serve de núcleo formador de um monte de caminhos de imaginação. Quando você satura o sistema visual e o sistema auditivo com imagens e sons, qual o espaço da imaginação. As pessoas estão ficando cada vez mais literais, menos metafóricas, menos capazes de fazer associações filosóficas e poéticas com aquilo que estão vivendo. Não por acaso tudo está ligado com a questão do consumo, com a questão política. Se as pessoas têm a capacidade de imaginação castrada, como vão inventar soluções para essa crise social ambiental..
Pensam e consumir e que isso lhe dá valor.
O pensamento está enjaulado, vivemos sem inovar em termos ambiental.