Na imaginação popular, ele é, acima de tudo, o marido traidor que levou sua esposa americana, Sylvia Plath, morte, ao suicídio.
É claro que é mais complicado do que isso. Embora Hughes estivesse na cama com uma de suas namoradas quando Plath ligou o gás, ela pode ter sido levada ao suicídio não apenas pela infidelidade do marido, mas também por causa da rejeição de um amante. De acordo com alguns esse amante era A. Alvarez, então o crítico de poesia mais influente da Inglaterra e um notável defensor de Plath e Hughes. O biógrafo afirma que o outrora famoso livro de Alvarez, The Savage God, apresenta uma versão altamente distorcida dos últimos dias de Plath. Seja qual for a verdade, sua morte se tornou o evento central da vida de Ted Hughes.
As páginas de abertura de qualquer biografia costumam ser tediosas, a menos que você seja um fã de genealogias familiares e, neste caso, descrições excessivamente longas da paisagem de Yorkshire. No entanto, numa biografia de Ted se enfatiza com razão o amor do jovem pela natureza e pelos animais, bem como sua proximidade com seu irmão, Gerald, e sua irmã, Olwyn, que, mais tarde na vida, tornou-se o agente literário do poeta.
A paixão pela leitura e um professor influente ajudaram o menino da classe trabalhadora a ganhar uma bolsa de estudos para Cambridge.
Ted Hughes, ao que parece, possuía um magnetismo sexual irresistível desde a adolescência. Uma namorada segue a outra até a noite em uma festa em Cambridge, quando ele vislumbra a sedutora e experiente Plath. A eletricidade entre eles é instantânea, há beijos e mordidas de amor na pista de dança. Se diz muito sobre a mal-humorada Sylvia: Ela estava pronta para algo novo e grande e, de preferência, envolvendo uma luta. Antes que você perceba, os dois Ted e Sylvia se separaram dos amantes e foram um casal, e então precipitadamente, felizmente, marido e mulher.
No meio do casamento de seis anos, porém, surgem rachaduras. Quando os dois lecionam por um ano nos Estados Unidos, Plath teme que seu marido bonitão pareça excessivamente amigável com algumas alunas. Então, depois que o casal retorna à Inglaterra, “The Hawk in the Rain” torna seu autor quase bironicamente famoso. Enquanto isso, Plath revela uma crescente instabilidade emocional, ocasionalmente atacando o marido. Em pouco tempo, ela tem um bom motivo para isso, já que ele se envolve com Assia Wevill e Susan Alliston. Ele está nos braços desta última no dia fatídico.
Hughes sente tristeza, perda e arrependimento pelo suicídio de Plath, embora não, tanto quanto eu possa dizer, nenhum alto grau de culpa. Mas ele imediatamente reconhece a grandeza dos poemas escritos em seus últimos quatro meses, os poemas publicados em “ Ariel ” e passa grande parte de sua vida promovendo e protegendo seu legado. Secretamente ao longo dos anos, ele também trabalhou em versos-memórias de Plath, publicando-os pouco antes de sua morte como... Cartas de Aniversário. Publicamente, ele sofre uma enxurrada de ataques pessoais, mais notoriamente no poema de Robin Morgan, “Arraignment”, que o atacou como um marido abusivo e mulherengo.
É triste dizer, mas há uma verdade real na velha acusação. Embora as análises de muitos sobre a poesia de Hughes possam ser abstratas e difíceis de acompanhar em parte porque ele não tem permissão para citar nada em profundidade, muitas de suas outras páginas são quase voyeurísticas. Toda vez que você lê uma frase sobre um guia turístico atraente ou a esposa de um pintor, sabe que haverá mais um entalhe na cabeceira da cama Hughes. Normalmente, o poeta faz malabarismos com dois ou três relacionamentos ao mesmo tempo.
Entretanto, muitos autores indicam que as mulheres se renderam avidamente ao glamour Heathcliffiano do poeta e sua fisicalidade às vezes brutal. No início de seu caso com Wevill, sua relação sexual tornou-se tão violenta uma noite que ele a machucou. Outra mulher lembra que a ideia de preliminares do poeta era jogá-la no chão. Paradoxalmente, Hughes se considera um devoto adorador da mulher como "a Deusa Branca". No entanto, num livro o mesmo, o poeta é a vítima do sacrifício, e não o contrário. Como Hughes disse uma vez: “Todas as mulheres com quem tenho alguma coisa a ver parecem morrer”.
Nem todos eles, certamente, apenas por causa do grande número. Mas vários o fazem: Wevill gaseou a si mesma e sua filhinha, Shura. Mesmo para um poeta, porém, Hughes parece notavelmente insensível a outros seres humanos. Depois de se casar com a enfermeira Carol Orchard, de 22 anos, ele quase imediatamente a deixa em sua casa em Court Green para cuidar de seus filhos com Sylvia enquanto passa uma semana com outra mulher. Bate racionaliza o comportamento grosseiro de Hughes como “em parte uma função de sua fidelidade à memória de Sylvia. Após o fim de seu primeiro casamento, nunca mais deixaria uma mulher possuí-lo por inteiro. Nunca mais ele se permitiria ser totalmente enjaulado.” Deve ter sido ótimo para Carol.
Se conclui que o poeta se entregou instintivamente inteiramente ao momento:
“É por isso que quando ele disse à mulher no sul de Londres que viria morar com ela permanentemente, ele quis dizer isso. E por que quando ele estava de volta a Court Green dizendo que nunca iria embora, ele quis dizer isso. E é também por isso que ele amava escrever, pescar e fazer sexo, em tudo o que existe é uma sensação de total absorção, uma unidade de mente e corpo, uma fuga das sombras do passado e das responsabilidades do futuro.”
Em seus últimos anos, Hughes, como o poeta laureado da Inglaterra, produziu a louca, gigantesca e grave obra em prosa, Shakespeare e a Deusa do Ser Completo, muito bem resumido por Bate e o primoroso “ Contos de Ovídio, um dos meus livros favoritos. Suas cartas coletadas foram comparadas às de Keats. Eu até adoro a gravação de áudio de Hughes de “ Four Quartets” de TS Eliot. ” Mas, depois de ler a biografia exaustiva dele, sinto-me deprimido com o fato de a arte nascer de tanta morte e devastação emocional.
