Vivemos em uma sociedade onde a integridade e honestidade costuma ser mais exigida dos outros do que de nós mesmos. É comum ouvir críticas contundentes aos políticos que desviam recursos, manipulam leis e abusam do poder para benefício próprio. Entretanto, essas mesmas vozes que clamam por ética e justiça, muitas vezes, falham em aplicar esses valores no cotidiano.
Quantas vezes vemos pessoas procurando "dar um jeitinho" para fugir de uma multa, conseguir um benefício indevido ou escapar de uma responsabilidade? É frequente encontrar brasileiros que, em busca de uma vida melhor, escolhem morar ilegalmente em outros países, mesmo sabendo que isso vai contra as leis locais. Outros sonegam impostos, contratam serviços sem registro ou burlam regras para obter vantagens. Entendo profundamente o desejo legítimo de alcançar uma vida mais digna, de buscar sonhos que parecem impossíveis no Brasil. No entanto, não podemos ignorar a contradição entre cobrar moralidade das instituições enquanto, no nível individual, agimos de forma oposta.
É claro que o contexto social e econômico do Brasil impulsiona muitos desses comportamentos. Em um país onde a desigualdade é gritante e a corrupção endêmica, muitos se sentem justificadamente desiludidos. Se vivêssemos em uma nação onde a honestidade fosse a regra e não a exceção, talvez menos brasileiros precisassem deixar suas casas e suas famílias para arriscar uma vida fora, muitas vezes em condições precárias e de forma irregular. Ainda assim, um erro não pode justificar outro.
O ciclo de corrupção que tanto criticamos nos políticos é, em parte, um reflexo do comportamento que nós, como cidadãos, perpetuamos. Se queremos um país mais íntegro, precisamos começar pelo micro, por nossas próprias escolhas diárias. Não adianta exigir ética de quem está no poder se, no cotidiano, ignoramos a ética quando ela não nos favorece.
A mudança não é fácil, mas é necessária. Podemos, sim, sonhar com um Brasil onde as pessoas não precisem fugir para viver com dignidade. Porém, para isso, devemos construir juntos a nação que queremos, não apenas através do voto, mas da prática diária de integridade, ainda que as circunstâncias nos pressionem a agir de forma diferente. O exemplo que esperamos do outro deve começar em nós.
As palavras.: Ordem e progresso, na bandeira, vem da frase de A.Comte: O amor por princípio e a ordem por base, o progresso por fim, referindo-se à importância da ordem para o desenvolvimento da sociedade.