Envelhecer dói
No Brasil, quase nada...
É RESPEITADO..
QUAL O valor da experiência de vida...
No Brasil, quase nada.
Envelhecer no nosso país é quase um pecado mortal.
É uma condenação em vários sentidos.
Ser idoso por aqui é "ganhar" da medicina a capacidade de se manter vivo
por mais tempo
e perder para a tecnologia o direito ao respeito
e ao sentimento de continuidade.
Vivemos num tempo em que os conceitos de objetividade estão supervalorizados em detrimento da sabedoria subjetiva.
Só tem valor o conhecimento cartesiano (penso, logo existo)
e que possa ser transformado
em dinheiro imediato.
Experiência de vida vale muito pouco.
As pessoas mais velhas
só têm valor para agências de turismo
que
criam roteiros para aumentar seus lucros.
Os aposentados, então, são muito interessantes...
para as instituições financeiras
interessadas nos juros e lucros certos
obtidos com os empréstimos para esse segmento.
Passar dos 60 significa uma ameaça para os planos de saúde ávidos por dinheiro fácil.
Encontro de gerações é ficção científica atualmente.
Foi-se o tempo em que o respeito aos mais velhos
era pré-requisito em qualquer família
e condição básica na ética da convivência.
A qualidade de vida não está resumida ao sentir-se bem fisicamente.
É preciso dignidade.
E isso a tecnologia e a máquina de consumo não nos oferecem.
Para começar, a família é uma instituição em via de extinção nas médias
e grandes cidades.
Compromissos familiares, então, nem se fala.
Vive-se a transitoriedade plena.
A cada dia, o conceito de continuidade é cada vez mais esquecido.
É preciso questionar este mundo transitório pelo qual somos empurrados.
Enquanto a transitoriedade valoriza o presente e a circunstância,
a continuidade dá mais ênfase à ligação das partes do ser jovem e idoso,
masculino
e feminino,
de modo a constituir um conjunto vivo,
com objetivo comum no qual a energia dos laços e afetos de família é dada e partilhada.
As novas gerações vivem intensamente o presente como se não houvesse futuro e passado.
Nossa sociedade desvaloriza o passado.
Numa sociedade dominada pela sedução do presente,
os idosos estão destinados
a parecer gradualmente menos importantes.
O domínio da tecnologia na sociedade atual faz com que sejamos
levados a respeitar a opinião de um computador em detrimento da opinião de uma pessoa.
Os mais velhos são tratados como ultrapassados pelas famílias.
Tornam-se, então, um estorvo na dinâmica impessoal das relações humanas.
O sucesso materialista de uma sociedade pode,
certamente, transformar-se no palco para o seu eventual fracasso.
Pensar apenas no presente faz do efêmero uma seita.
Na Antiguidade, os gregos já haviam chegado à conclusão de que, paradoxalmente,
somos mais vulneráveis quando nos sentimos fortes.
Na atualidade, tudo o que não é imediato
e objetivo,
perde totalmente seu valor.
A ética do materialismo se infiltra na vida das pessoas,
de modo tal que rompe
o tecido de valores da sociedade.
O egoísmo do atual modelo
social desintegra a família tradicional
e os laços de lealdade e amor
que unem seus membros.
Em qualquer época, os idosos são a personificação biológica
do tempo passado.
Na medida em que o passado
é desvalorizado,
também os idosos serão
desvalorizados e considerados socialmente descartáveis.
Dentro desse quadro,
os mais velhos, sentindo-se
ultrapassados,
acabam perdendo o respeito
por si próprios
e, num gesto socialmente
estimulado pela propaganda,
passam a imitar cada vez mais
os jovens.
A conseqüência disso
é que a família terá perdido
um de seus bens mais valiosos,
o sentimento de continuidade.
A velocidade dos acontecimentos neste século 21
afasta qualquer ilusão
de renascer uma família tradicional.
É necessário criar novas tradições familiares.
O amor e o respeito são as únicas forças capazes
de restituir a integridade
de uma família e de uma sociedade.
É preciso estar atento para o fato de que transmitir princípios
de conduta de uma geração para a seguinte requer empenho
e um esforço determinado.
A mera reprodução física
da raça humana
não garante a sobrevivência
dos ideais da sociedade.