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terça-feira, 2 de abril de 2024

Cultural consumption

BERNARD STIEGLER, 
1952 -2020, filósofo e professor francês.. escreveu 
.O DESEJO ASFIXIADO. Uma reflexão que passa pela cultura, tida agora como um bem de consumo, que deve ser produzido pela respectiva “indústria” e que deve dar lucro, “tal como a educação, a saúde, a roupa, a goma de mascar.”
.“(...) Freud escreveu em 1930 que apesar de dotado pelas tecnologias industriais e atributos do divino, e “embora se assemelhe a Deus, o homem de hoje não se sente feliz”. É exatamente isso que a sociedade hiperindustrial faz com os seres humanos: os priva de individualidade, transformando-os em rebanhos de pessoas disfuncionais, produzindo um futuro defeituoso. Esses rebanhos desumanos cada vez mais tendem a se tornar furiosos: em sua obra, Freud analisa alguns loucos que tentaram retornar ao estado de horda, tomados pela descoberta da pulsão de morte, teoria revisitada por ele depois quando o totalitarismo, nazismo e antissemitismo estavam se espalhando por toda a Europa.
.Embora Freud fale sobre a fotografia, o gramofone e o telefone, ele não evoca o rádio nem o cinema – então utilizados por Mussolini e Stalin, e posteriormente por Hitler  e um senador americano afirmava já em 1912 que “trade follows films” 
“o comércio seguirá o cinema”. E ele nem imaginaria o poder da televisão. Os nazistas experimentaram uma primeira transmissão pública em abril de 1935. Enquanto isso, o alemão Walter Benjamin examinava o que chamou de “narcisismo de massa”: o controle dessas mídias pelos poderes totalitários. Mas parece que ele também não conseguiu avaliar, para além de Freud, a dimensão funcional  em todos os países, inclusive nos democráticos  das emergentes indústrias culturais.
.(...) Esse também é o caso da atividade dita “de tempo livre” que, dentro da esfera hiperindustrial, estende-se a todo comportamento humano compulsivo e mimético do consumidor: tudo deve se transformar em bem de consumo, educação, cultura e saúde, da mesma forma que roupa e goma de mascar. Mas a ilusão que se deve ter para alcançar esse objetivo só pode causar frustração, descrédito e instintos destrutivos. Só na frente da minha TV posso afirmar que me comporto individualmente, mas a realidade é que faço como centenas de milhares de espectadores que assistem ao mesmo programa.
.Um objeto temporal – música, filme ou emissão de rádio é constituído pelo seu tempo de vida, ou prazo de validade, algo que o filósofo alemão Edmund Husserl denominou como fluxo. É um objeto passageiro. Ele é definido, da mesma forma que as consciências que ele une, como algo que desaparece à medida que aparece. Com o nascimento do rádio e da televisão, as indústrias de programas começaram a produzir objetos temporais que coincidem o tempo de seus fluxos e o fluxo de tempo das consciências das quais são objetos. Essa coincidência permite à consciência adotar o tempo desses objetos, ou seja, da indústria cultural contemporânea.