1952 -2020, filósofo e professor francês.. escreveu
.O DESEJO ASFIXIADO. Uma reflexão que passa pela cultura, tida agora como um bem de consumo, que deve ser produzido pela respectiva “indústria” e que deve dar lucro, “tal como a educação, a saúde, a roupa, a goma de mascar.”
.“(...) Freud escreveu em 1930 que apesar de dotado pelas tecnologias industriais e atributos do divino, e “embora se assemelhe a Deus, o homem de hoje não se sente feliz”. É exatamente isso que a sociedade hiperindustrial faz com os seres humanos: os priva de individualidade, transformando-os em rebanhos de pessoas disfuncionais, produzindo um futuro defeituoso. Esses rebanhos desumanos cada vez mais tendem a se tornar furiosos: em sua obra, Freud analisa alguns loucos que tentaram retornar ao estado de horda, tomados pela descoberta da pulsão de morte, teoria revisitada por ele depois quando o totalitarismo, nazismo e antissemitismo estavam se espalhando por toda a Europa.
.Embora Freud fale sobre a fotografia, o gramofone e o telefone, ele não evoca o rádio nem o cinema – então utilizados por Mussolini e Stalin, e posteriormente por Hitler e um senador americano afirmava já em 1912 que “trade follows films”
.O DESEJO ASFIXIADO. Uma reflexão que passa pela cultura, tida agora como um bem de consumo, que deve ser produzido pela respectiva “indústria” e que deve dar lucro, “tal como a educação, a saúde, a roupa, a goma de mascar.”
.“(...) Freud escreveu em 1930 que apesar de dotado pelas tecnologias industriais e atributos do divino, e “embora se assemelhe a Deus, o homem de hoje não se sente feliz”. É exatamente isso que a sociedade hiperindustrial faz com os seres humanos: os priva de individualidade, transformando-os em rebanhos de pessoas disfuncionais, produzindo um futuro defeituoso. Esses rebanhos desumanos cada vez mais tendem a se tornar furiosos: em sua obra, Freud analisa alguns loucos que tentaram retornar ao estado de horda, tomados pela descoberta da pulsão de morte, teoria revisitada por ele depois quando o totalitarismo, nazismo e antissemitismo estavam se espalhando por toda a Europa.
.Embora Freud fale sobre a fotografia, o gramofone e o telefone, ele não evoca o rádio nem o cinema – então utilizados por Mussolini e Stalin, e posteriormente por Hitler e um senador americano afirmava já em 1912 que “trade follows films”
“o comércio seguirá o cinema”. E ele nem imaginaria o poder da televisão. Os nazistas experimentaram uma primeira transmissão pública em abril de 1935. Enquanto isso, o alemão Walter Benjamin examinava o que chamou de “narcisismo de massa”: o controle dessas mídias pelos poderes totalitários. Mas parece que ele também não conseguiu avaliar, para além de Freud, a dimensão funcional em todos os países, inclusive nos democráticos das emergentes indústrias culturais.
.(...) Esse também é o caso da atividade dita “de tempo livre” que, dentro da esfera hiperindustrial, estende-se a todo comportamento humano compulsivo e mimético do consumidor: tudo deve se transformar em bem de consumo, educação, cultura e saúde, da mesma forma que roupa e goma de mascar. Mas a ilusão que se deve ter para alcançar esse objetivo só pode causar frustração, descrédito e instintos destrutivos. Só na frente da minha TV posso afirmar que me comporto individualmente, mas a realidade é que faço como centenas de milhares de espectadores que assistem ao mesmo programa.
.(...) Esse também é o caso da atividade dita “de tempo livre” que, dentro da esfera hiperindustrial, estende-se a todo comportamento humano compulsivo e mimético do consumidor: tudo deve se transformar em bem de consumo, educação, cultura e saúde, da mesma forma que roupa e goma de mascar. Mas a ilusão que se deve ter para alcançar esse objetivo só pode causar frustração, descrédito e instintos destrutivos. Só na frente da minha TV posso afirmar que me comporto individualmente, mas a realidade é que faço como centenas de milhares de espectadores que assistem ao mesmo programa.
.Um objeto temporal – música, filme ou emissão de rádio é constituído pelo seu tempo de vida, ou prazo de validade, algo que o filósofo alemão Edmund Husserl denominou como fluxo. É um objeto passageiro. Ele é definido, da mesma forma que as consciências que ele une, como algo que desaparece à medida que aparece. Com o nascimento do rádio e da televisão, as indústrias de programas começaram a produzir objetos temporais que coincidem o tempo de seus fluxos e o fluxo de tempo das consciências das quais são objetos. Essa coincidência permite à consciência adotar o tempo desses objetos, ou seja, da indústria cultural contemporânea.