Escolhas fáceis, vida difícil.Escolhas difíceis,
vida fácil. Quando você precisa escolher um parceiro, uma profissão, um emprego, uma roupa ou um molho para saladas, é importante ter muitas alternativas.
Afinal de contas, quanto mais opções você tiver, maior a chance de escolher algo capaz de te satisfazer de verdade, certo? Errado.
O ponto é que quando temos opções demais, podemos até escolher uma alternativa melhor do que aquela que escolheríamos se tivéssemos poucas opções. Mesmo assim, nos sentimos menos satisfeitos.
Parece contraditório, eu sei.
Tanto que Barry Schwartz, na Universidade da Pensilvânia, chamou o fenômeno e o livro que escreveu para explicá-lo de Paradoxo da Escolha.
E você pode me dizer: Mas, Rebel é impossível fugir das escolhas.
Pelo contrário, se tem algo que a tecnologia faz de forma brilhante é eliminar as barreiras e tornar praticamente tudo acessível.
Poucos títulos na locadora. Netflix.
Poucas pessoas interessantes no seu círculo social virtual.
E eu te respondo:
“É verdade, estamos afundados em um mar de catálogos e escolher é preciso. Mas também é preciso saber como a nossa mente funciona neste contexto. Enquanto não ter escolhas é aprisionador, ter escolhas demais pode ser receita para a crise. A não ser, é claro, que você entenda como fazê-las”.
O excesso de opções e a idealização.
Quando temos opções demais por exemplo, o catálogo do Tinder ou da Netflix – fantasiamos que, em algum lugar entre essas milhares de alternativas, há de existir uma opção excepcionalmente incrível. Ou então aquela opção imperfeitamente perfeita para você, com a medida certa de defeitos que você adora, ou que pelo menos não te incomodem tanto assim.
Paradoxalmente, ter muitas opções alimenta a ilusão de que pode haver uma alternativa perfeita. Portanto, quando as pessoas saem do transe apaixonado e se deparam com os custos de suas escolhas, elas se sentem mais insatisfeitas e tem maior propensão ao arrependimento.
Mais do que isso. Se você idealiza que existem opções ideais e você não as escolheu, isso significa que o problema é você. Ou seja, em vez de interpretar os custos das nossas escolhas como parte inexorável da realidade, achamos que a nossa insatisfação é a prova da nossa incapacidade de escolher. E quando isso se repete vezes suficiente, nos tornamos inseguros, desesperançados e deprimidos.
Opções demais, persistência de menos
Não topamos mais vidas reais, profissões reais, pessoais reais. Queremos algo sem defeitos, que arranque suspiros indefinidamente. Mas, anote: só o novo é capaz de gerar uma dose tão grande de entusiasmo a ponto de nos faltar espaço mental para considerar os custos. Enquanto você buscar uma alternativa perfeita, você pulará de uma paixão para outra, de um projeto para outro, ou de relacionamento para relacionamento.
E não teria nada de errado com isso se fôssemos felizes desta forma.
A questão é que o que procuramos nas nossas escolhas frequentemente só nos é dado no longo prazo. Por exemplo, a intimidade nas relações nos traz segurança e pertencimento, mas intimidade só se constrói com o tempo.
A autoridade profissional nos traz recursos materiais e autoestima, mas autoridade profissional também requer tempo. Precisamos nos comprometer.
Existe uma forma de encarar as nossas escolhas que pode nos trazer resultados mais satisfatórios. A solução vem do trabalho de Herbet Simon, que ganhou o Prêmio Nobel de Economia em 1978 por seu trabalho em tomada de decisão. E a solução é: seja um “satisficer”.
Vou explicar: Satisfazer-se é contentar-se com algo que é bom o suficiente. Ou seja, um “satisficer” tem critérios. Ele investiga opções até encontrar um item que atenda a esses critérios e, quando ele encontra, ele para de procurar. O contrário de “satisficer” é ser um “maximizer” – pessoas que buscam e se satisfazem apenas com o melhor. “Maximizers” são aqueles que, mesmo quando escolhem, continuam de orelha em pé caso surja algo mais atrativo.
Pois bem, de acordo com a ciência, porque maximizers buscam a alternativa perfeita, eles têm mais dificuldade e levam mais tempo para escolher.
Além disso, eles comparam mais as suas escolhas com alternativas não escolhidas, portanto, inflacionam os custos de oportunidade.
Mesmo que terminem com alternativas objetivamente melhores, os maximizers tem menor satisfação subjetiva, ou seja, se arrependem mais das escolhas que fazem. Eles são menos felizes e tem mais ansiedade e depressão.
Portanto, Schwartz alerta para que fiquemos atento para quais esferas da nossa vida tendemos a maximizar e exercitemos o ato de dar-nos por satisfeitos com uma realidade imperfeita, porém satisfatória.
Pode ser que o fim do encanto não seja tão trágico assim, mas um sinal de que agora você consegue – com mais maturidade e menos dopamina, entender os prós e contras da sua escolha e avaliá-los à luz dos seus valores e dos critérios que realmente importam.
Enquanto estivermos vivendo em um planeta de alternativas imperfeitas e sob o comando de um cérebro imperfeito, talvez valha ser um satisficer.
E os “satisficer”(não existe tradução para o termo, seria uma junção de suficiente com satisfeito) que são pessoas que fazem uma escolha ou agem uma vez que seu critério foi atingido.