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sábado, 29 de julho de 2023

Chega de lixo

Lamentavelmente,
a arte quase sempre tem razão quando escancara a realidade.
Os velhos versos de Caetano são apenas uma pequena amostra do que se pode aprender, apreender, compreender
e depreender da leitura
e da audição do que não é lixo. Na canção "Podres Poderes", de 1984, Enquanto os homens exercem seus podres poderes.
Motos e fuscas avançam
os sinais vermelhos..
E perdem os verdes
Somos uns boçais.
A massa, da massa bruta,
da bruta massa de que fazemos parte povão.. neste triste Brasil...
O Brasilzão de 2014 ainda
avança os sinais vermelhos
e perde os verdes, se é que
chega a enxergá-los.

Caetano incluiu estes versos do disco Circuladô..
de 1991:
"O furto, o estupro, o rapto pútrido / O fétido sequestro / O adjetivo esdrúxulo em U / Onde o cujo faz a curva / (O cu do mundo, esse nosso sítio) / O crime estúpido/ o criminoso só / Substantivo, comum / O fruto espúrio reluz / À subsombra desumana dos linchadores / A mais triste nação / Na época mais podre / Compõe-se de possíveis / Grupos de linchadores".
Certamente Caetano não tirou do nada esses versos.
Duas décadas depois, nada mudou, nada muda neste país.
Fico me perguntando o que poderia ter mudado se.... nesses anos todos,
os professores tivéssemos trabalhado textos como esses (não só nas aulas de português, mas também nas de história, geografia, filosofia etc....
Será que a sala de aula ainda tem (se é que já teve) o poder de fazer a garotada mergulhar na reflexão sobre a nossa dura realidade?
Será que o nosso sistema educacional e os nossos professores têm mesmo condições de promover a tão propalada "revolução pela educação"
e, consequentemente, de pôr para aprender a pensar a nossa garotada toda?
E será que a nossa sociedade, violenta até mais não poder, tem condições de estabelecer a paz?
Quando digo "violenta até mais não poder", não me refiro aos criminosos "verdadeiros"; refiro-me ao cidadão brasileiro médio, aquele que trafega no acostamento das rodovias, que ultrapassa na entrada da cabine de pedágio, que não respeita a faixa de pedestres, que impõe a toda a vizinhança, em altíssimo volume, o som de bate-estaca etc., etc., etc.
Isso tudo não é característica de uma sociedade violentíssima e boçal,
Lamentavelmente, a arte quase sempre tem razão quando escancara a realidade.
Os velhos versos de Caetano são apenas uma pequena amostra do que se pode
aprender,
apreender,
compreender
e
depreender da leitura
e da audição do que não é lixo
Aliás, chega de lixo! É isso.
Aliás, chega de lixo! É isso.
Foto by Rebel
Texto 
Prof Pasquale Cipro Neto