A literatura é a arte de descobrir algo extraordinário sobre pessoas comuns e dizer com palavras comuns algo extraordinário. Boris P.
Não podemos voltar, mas na literatura podemos voltar ou apenas olhar e lembrar lá atrás, de onde viemos...dar uma voltas no passado, por onde vivemos, onde moramos, onde a vida valeu a pena, onde fomos felizes, mas isso apenas mentalmente...muitos ou a maioria dos dos lugares e pessoas já não existem mais.
Tá bom então é isso que faço revisitar o passado.
O meu passado.
Nem toda cultura é global..Há coisas que estão num só pedaço...só na nossa mente...outras num pedaço do mundo, que pouca gente ouviu falar ou vai ouvir.
Eu vendo memoráveis retratos de meus avós e tias do anos 20 e 30, pais e tios dos anos 40, irmãos já lá pelos anos 50.⏲️⏱️🕑🇮🇹Mais de meio século atrás.
Alguns desses retratos podem parecer um pouco fora
de foco para meus filhos, mas lá estão meus avós,
relaxados num casamento de seu único filho nos anos 50, outras fotos com a bengala, outra com uma faixa militar da primeira guerra, que participou na Itália, com uma jaqueta protegendo-se do frio, claro não são melhores fotos, deve haver outras, transmitem uma sensação de intimidade com um mundo perdido entre a vida na Europa que era dura e no interior do Rio Grande do Sul depois aqui em Tangará Santa Catarina.
Meu avô, Sr. Silvio Antonio Dalmolin, nascido em Enego, Itália em 10/09/1885,
casou com Elisa
Catharina Ballen,
nascida 1896 em
Feltre BELLUNO,
CASOU-SE em 03/06/1916,
em Ajuricaba - R.G.do Sul-Brasil
Nascido na Itália meu avó Silvio
Dalmolin participou
da primeira guerra mundial,
fugiu da guerra,
mas nos últimos anos antes da sua morte,
em 1970,
ele mereceu toda atenção minha,
em São Marcos, na cidade de Tangará.
Agora, é hora de relembrar com seus retratos, que ocupam meu computador, com algumas fotos pouco conhecidas, que ele tinha.
De certa forma, estas fotos são mais um exercício de imaginação, mas são muito mas muito interessantes.
Meu avó Silvio foi um marco na minha infância.
Hábil contador de histórias, relembrava a Itália com gosto, a vida na Áustria, o inverno nos Alpes, numa época que não havia revistas, só radio e tudo soava como pouco ou muito pouco familiar a mim um menino de 5 a 6 anos.e suas fotos me levavam abençoadamente longe e a rigor, não são arte, mas são honestas e verdadeiras.
O que é a experiência do exílio..
se bem que voluntario...a vida na Itália era péssima na época...do final do
século 19, e ai a saída de sua terra natal a num pais tropical
E falava sobre a sua própria infância, em Enego, no Vêneto Italiano,
perto de Vicenza, norte da Itália🇮🇹, onde certa vez notou como a vida ali não teria mais jeito tudo destroçado
o caos habitava, e a fome com residual
da primeira guerra, havia tornado
clara para ele a iminência de
"uma longa e talvez duradoura
despedida
da cidade natal", voltou para
Itália varias vezes, depois
por saudade.
"Várias vezes na minha vida interior já experimentei o processo de inoculação como algo salutar, cada sua experiência, cada palavra era esse exercício.
É de certa forma isso que as fotos dele sugerem também uma tentativa de vida nova, num continente distante, contra as sequêlas locais da guerra, tudo isso num tempo que era tudo muito difícil.
Tudo que me contava era levado muito a sério, mas era muito caro a ele as lembranças dos amigos e seus entes que se foram na guerra ou ficaram na Itália... e estão ai imortalizados nos retratos.
"Podemos apenas imaginar o que teria significado para aquela época repentinamente, ver diante de si, de forma tão verossímil, as pessoas queridas de sua vida", vendo através de suas primeiras fotografias.
As fotos da pós-guerra, especialmente em 1920, são uma coisa à parte.
Elas mostram a Itália na reconstrução.
As cidades eram tão diferentes para mim de tudo que é hoje para os que não se lembram, de que o mundo era tão diferente. e que pessoas viveram esta época.
Suas fotos documentam tudo isso.
A foto não tem um ponto de fuga...
é a realidade
À primeira vista, é quase fantástico tudo.
Quando estava sentado na área de sua casa em São Marcos, em suas palavras, havia a "a sensação de saudade..
na sua voz que derramava e atingia minha alma..
Ele era um bom senhor
um corpo ainda saudável e que aprazia um "bitchero de vinho, um salame e um formaggio".
Ele sempre acrescentava: "Busquei o Brasil por meio do mar e voltei varias vezes a minha Itália, mas sempre gostei daqui e aqui quero morrer e uma certa dualidade, mas amava italia e muito mais este país e queria morrer no Brasil"
Morreu em setembro de 1970.
Tudo isso é um antidoto da irrecuperabilidade do passado que tem gente que acredita".
O passado é irrecuperável...no ponto de vista real, da vida biológico, mas do imaginário, das lembranças não e a fotografia é o começo deste fio que conduz a este passado tão querido dele e meu.
O futuro seria mais estranho se não houvesse esta lembranças gratas do seu passado, e ainda é tão claro em minha mente.
Era isso que cada visita, junto com a avô, cada estada, os almoços no porão, o suco de uva ou de laranja, em sua casa na subida do morro, quase no cume da colina que tão bem representava.
Um local em fazíamos a descida com tabuinhas na grama verde alisada com vela, coisa que não tem similar se faz algo assim hoje com skate.
As fotos dele na minha mente ainda falavam da sua cidade e da Europa em meados do século 19 e 20 e à própria condição dela.
Não são realmente uma coisa à parte.
São autorretratos da vida.
Abaixo a foto dos meus filhos seus avós e meu avô em 1927..
Demais.Abaixo a foto de meus avós e suas filhas em 1927..no colo minha mãe Tercíla Dalmolin com 2 meses.