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domingo, 12 de março de 2023

60's, When we were Younger.

Quando era criança 
e depois jovem éramos 
pobres...e humildes.
Não é diminutivo, 
mas era tão comum
aos moradores 
de Iomerê.
Humildes mas 
trabalhadores..
Havia um tempo 
sim,
Quando vivia aqui,
era outro tempo,
vivi aqui...
nos anos 60
nesta casa..

Hoje há um olhar 
quase infantil..
ou juvenil, de tudo foi, que passou,
vendo esta foto.
Havia o medo..
havia a timidez..
Sobretudo coragem...
em todos lados 
numa cidade...
sem nunca ter inveja mas, 
orgulho,
Iomerê,
nos acolheu muito bem...
Agora vejo, com 
todos este anos...
Aquele tempo 

era mesmo 
um belo tempo...
Começar..
lá era  o começo 
e seguiu um desejo muito intenso
que não se perdeu  
no tempo..
E agora ando correndo tanto...
Talvez..procurando aquele.. 
tempo mais inocente..
mais puro
lugar que em 1963, era
um novo lugar...
meu lugar até hoje.
Aquela  casa nada resta..
que nada me resta 
além da lembrança...
já tá bom
Encontrar alguém  

daquele tempo 
prá ficar batendo papo..
Agora vejo, 
aquele  senhor era mesmo
o Hermínio Colissi...
no Volpato do Clube..

Era o padre...Carlos 
No começo 
eram os Camilianos..
Famílias muitas,
os Mendes,
os Santini,
os Corso,
Os lazzari,
Os Penso..
Os Mezzomo..
Mariani..
Hentz..
Scariot
Mugnol..
Pastore
Zardo..
nada se perdeu..
E agora é tarde, 
vejo o fim de tarde..
os belos montes 
da  vista 
no horizonte..

No meu lado alguém que 
eu não conhecia..
compartilha o momento...
em Iomerê.
Outras crianças... 

jovens adultos e....
é um tempo chamado 2013..
Pelos anos  vejo  

muito que a memória escondia
E agora eu vejo..
vejo muito..
que era tão importante 
ir no Frei Evaristo...
na Igreja matriz...
...
Nas manhãs geladas de inverno, em 1965..
não se andavam pelas ruas de Iomerê...
muito a vontade,
havia neve..
era o mês de agosto... 
Me recordo sempre..
correndo, 
com os braços cruzados 
sobre o peito para tentar conservar 
o calor de meu casaco de lã...
quer era emprestado do meu irmão...
queria ir a rua..
não tinha sapato para todos nós,
só havia um..
então podíamos ir a rua um por vez... 
Me recordo também de alguns homens 
que caminhavam devagar, com as golas 
do casaco levantadas e luvas na mão.
Eu os olhava, me perguntava 
se sentiam tanto frio como eu, 
me surpreendia com sua compostura 
e guardava minha curiosidade 
para mim mesmo..
mas,
eu senti muito frio..
um inverno de curiosidades.
Nos anos 60 do século 20, 
a curiosidade era muita 
para uma criança de 7 ou  8 anos..


Cresci, entre  7 irmãos,
às vezes nem todos,
mas 
com os 3 menores 
deitava sobre uma cama,
às vezes corria pela casa.. 
de um mundo de pessoas, 
crianças e jovens 
e sorridentes que 
conhecíamos o mundo...
um momento assim..
tudo era novo 
e  a neve 
algo monumental..
Quem é...
batia a porta.. 
Eram tios de Videira 
e amigos da família
e estavam ali..
Meu tio Guerino e a tia Edwirges.
Usavam uma Itamaraty...
Quando em 1965..
Faz muito tempo.
Como foi, por que,
o que aconteceu..
Foi na neve que 
nos divertíamos,
ou depois na chegada em casa 
a mãe nos reprendia..
mas é uma história tão gostosa.. 
é muito linda a neve..
é melhor falar de assuntos agradáveis...
eram muito legal na nova casa,
usada depois, 
que mudamos vindo,
de Pinheiro Preto em 1963.
Ali, naquele momento 
do qual ninguém 
se atrevia a sair sem 
um grosso casaco..
eu ouvia falar de muitos 
na vizinhança,
embora ainda percebia 
nos olhos dos adultos 
como uma admiração... 
aberta, pelo frio ou pela 
branca paisagem.. 
mas a neve era novidade a todos 
e  terminavam todas as conversas...
neste assunto..
Assim aprendemos 
perguntar muito antes de 
ler versos ..
ouvíamos todas as histórias 
da História, 
sem dúvida a mais 
alegre é a da Neve, 
porque determina o momento...
mais feliz que vivíamos.
Os Iomerenses de hoje gostam 
de se lembrar disso.
Vivíamos em um país pobre, mas isso era novidade.
Sempre tínhamos a ideia de ter sido 
pobres, inclusive na época em que 
se ouvia a radio Voz da América, 
que os Americanos eram senhores do mundo, 
mas poderia, 
ser os portugueses levaram o ouro do Brasil,
atravessavam a província de Minas sem deixar em seu rastro nada para nós, 
mais que a poeira levantada pelas carroças 
que o levavam a Portugal, 
para saldar as dívidas da Coroa....
assim pensava ouvindo as aulas de História 
que poderíamos ser ricos..
o Brasil podia...enfim éramos um país pobre 
e continuamos assim...
Na Iomerê de minha infância, 
onde vivia era sobretudo de uma simplicidade a prova, não havia luxo, tudo que não estava ao alcance das  famílias.. por que não se sabia.
Viajava a Videira 
que esperavam a hora 
de embarcar em um trem, 
a caminho de Joaçaba.. 
ou de Caçador..
mas a pobreza já deixava 
de ser um destino familiar, 
tínhamos educação, a única herança 
que muitos pais podiam 
deixar para seus filhos.
Entretanto, nesse legado 
havia algo mais,
uma riqueza que perdemos...o convívio com os padres e seminaristas, 
a celebrações na igreja, a férias com a convivência 
de pessoas que estudavam fora no fim de ano.
Olho para trás e me recordo de tudo, do frio, 
dos silêncios, do nervosismo dos adultos quando se cruzavam com um policial na calçada, de um costume antigo...
medo do delegado. 
Se um pedaço de pão caía ao chão, 
nos obrigavam a recolhê-lo e  devolvê-lo à cesta de pão, porque houve muita fome em nossas casas, 
tínhamos muito cuidado, com o pão de todo dia.. 
A cidade parava quando morreram aquelas 
pessoas queridas de quem ninguém queria nos falar.
Porém, por mais que eu me esforce, me recordo da tristeza...
da morte de minha irmã em 1964.
Não há raiva, sim,  
belas lembranças de alguns homens e mulheres que em uma só vida 
tinham acumulado tragédias, como alguns casos de assassinatos foram 3 que eu ouvi, 
o suficientes para afundar as vezes, 
a crença da bondade das pessoas.. 
mas que, não obstante, continuavam existindo. 
Porque  até uns 50 anos atrás, os filhos herdavam a educação o respeito acima de tudo, mas também a dignidade de seus pais, 
uma maneira de ser humilde mais digno, 
sem deixar de ser solidário, sem deixar de lutar por seu futuro, sem nunca se dar por vencido.
Nem mesmo nos 60 da feroz ditadura 
que foram os frutos daquela guerra maldita, 
com esquerda se conseguiu evitar que seus amigos prosperassem.. que se apaixonassem, 
que tivessem filhos, que fossem felizes.
Na minha querida 
Iomerê de minha infância, 
a felicidade era também 
uma maneira de resistir...
a todas as dificuldades.
Depois nos disseram 
que era preciso continuar 
a esquecer...algumas mágoas.. 
Que para construir a vida 
era imprescindível 
olhar para frente, fazer como se nunca tivesse 
acontecido nada por aqui. 
E, ao esquecermos o ruim, 
não esquecemos o bom.
Parecia importante, 
porque de repente 
éramos bonitos, 
éramos modernos, 
estávamos na moda...
éramos hippies.
Para quê não recordar 
da guerra do
Vietnã,
a morte de Kennedy,
centenas  de mortos na ditadura... 
tanta hostilidade no golpe de 64...
com os comunistas doutro lado.
Assim,  sem renegando  o momento sobretudo, 
não perdemos os vínculos com nossa própria 
tradição do povo de Iomerê,
as referências que agora nos deixa assim.. 
com palavras vinda do coração..
A cidade é um tesouro que não se compra com dinheiro.
Assim, nós, hoje, mais que  felizes, 
estamos gratos, mas as vezes abismados 
em uma confusão paralisante  do país.. 
Sentimos meio que desorientados 
como um menino mimado de quem tiraram 
os brinquedos e que não sabe protestar, 
reclamar o que era seu, denunciar 
o roubo, deter os ladrões.
Se nossos avôs nos vissem, 
primeiro morreriam de rir, depois morreriam de pena.
Porque para eles isso não seria uma crise, mas um leve contratempo.
Mas nós, que durante  muito soubemos ser pobres sem roubar e viver com dignidade e soubemos ser dóceis...isso não explica a violência  e o assistencialismo de hoje.

Nunca mais agora...
Num lugar que 
havia em Iomerê..
lembrei..
havia um tempo..
dos vinhos Cometa..
agora eu vejo..
que tudo é lembrança..
como a praça antiga..
os seminaristas  

Camilianos,
do antigo seminário..
o juvenato do 

Sta Marcelina...
no catecismo da 
Igreja Matriz São Luís..
o Frei Evaristo 

com a freiras..
num tempo em que 

se buscava 
outras coisas..
como ir na missa..
a festa de São Luís..
a raia..
o campo do Atlético 

ou Sarei.
O clube...
parece que quando 
éramos tão jovens
era tudo 
uma miragem,
mas nem tudo foi..
ainda há muito..
por aqui.
Basta olhar...
aqui 
é um belo lugar 

era meu lugar...
não mais agora.