ADORMECI NUM RIO, de 🇺🇸Louise Glück (🌞22 de Abril de 1944 morreu em 13 de Outubro de 2023), poetisa norte-americana, Prémio Nobel da Literatura em 2020.
Adormeci num rio, acordei num rio,
da minha misteriosa
incapacidade de morrer nada sei
dizer-te, nem
de quem me salvou ou por que razão
Havia um silêncio imenso.
Nenhum vento. Nenhum som humano.
O século amargo
tinha chegado ao fim,
o glorioso, o duradouro,
o sol frio
persistia como uma antiqualha, um memento,
com o tempo a correr por detrás
O céu parecia muito límpido,
como no inverno,
o solo seco, inculto,
a luz oficial atravessava
calmamente uma fresta no ar
digna, complacente,
desfazia a esperança,
subordinava imagens do futuro aos sinais da passagem do futuro –
Julgo que caí.
Só à força pude tentar levantar-me,
tão estranha me era a dor física
Tinha esquecido
a dureza destas condições:
a terra, não obsoleta,
mas quieta, o rio frio, pouco profundo
Do meu sono não recordo
nada. Quando gritei,
a minha voz trouxe-me um inesperado consolo.
No silêncio da consciência, perguntei-me:
porque rejeitei a minha vida? E respondi
“Die Erde überwältigt mich:“
a terra derrota-me.
Tentei ser exacta nesta descrição,
para o caso de alguém me seguir. Posso garantir
que o pôr-do-sol no inverno é
incomparavelmente belo e a memória dele
dura muito tempo. Julgo que isto significa
que não havia noite.
A noite estava dentro de mim.
....
I feel asleep in a river, I woke in a river,
of my mysterious
failure to die I can tell you
nothing, neither
who saved me nor for what cause
There was immense silence.
No wind. No human sound.
The bitter century
was ended,
the glorious gone, the abiding gone,
the cold sun
persisting as a kind of curiosity, a memento,
time streaming behind it
The sky seemed very clear,
as it is in winter,
the soil dry, uncultivated,
the official light calmly
moving through a slot of air
dignified, complacent,
dissolving hope,
subordinating images of the future to signs of the future’s passing
I think I must have fallen.
When I tried to stand, I had to force myself,
being unused to physical pain
I had forgotten
how harsh these conditions are:
the earth not obsolete
but still, the river cold, shallow
Of my sleep, I remember
nothing. When I cried out,
my voice soothed me unexpectedly.
In the silence of consciousness I asked myself:
why did I reject my life? And I answer
Die Erde überwältigt mich:
the earth defeats me.
I have tried to be accurate in this description
in case someone else should follow me. I can verify
that when the sun sets in winter it is
incomparably beautiful and the memory of it
lasts a long time. I think this means
there was no night.
The night was in my head.