A EMANCIPAÇÃO DA MULHER....
Continuamos a ignorar, até agora, quando e como os rebanhos deixaram de ser propriedade comum da tribo ou da “gens“ e passaram a ser património dos diferentes chefes de família; mas a mudança, no essencial, deve ter ocorrido nessa fase. E, com a aparição dos rebanhos e outras riquezas novas, operou-se uma revolução na família. O providenciar a alimentação fora sempre assunto do homem; e os instrumentos necessários para isso eram produzidos por ele e de sua propriedade ficavam sendo. Os rebanhos constituíam nova fonte de alimentos e utilidades; a sua domesticação e ulterior criação competiam ao homem. Por isso o gado lhe pertencia, assim como as mercadorias e os escravos que obtinha em troca dele. Todo o excedente deixado agora pela produção pertencia ao homem; a mulher tinha participação no consumo, porém, não na propriedade. O "selvagem" guerreiro e caçador tinha-se conformado em ocupar o segundo lugar na hierarquia doméstica e dar precedência à mulher; o pastor, mais "suave", envaidecido com a riqueza, tomou o primeiro lugar, relegando a mulher para o segundo. E ela não podia reclamar. A divisão do trabalho na família havia sido a base para a distribuição da propriedade entre o homem e a mulher.Essa divisão do trabalho na família continuava a ser a mesma, mas agora transtornava as relações domésticas, pelo simples facto de ter mudado a divisão do trabalho fora da família. A mesma causa que havia assegurado à mulher a sua anterior supremacia na casa — a exclusividade no trato dos problemas domésticos — assegurava agora a preponderância do homem no lar: o trabalho doméstico da mulher perdia a sua importância, comparado com o trabalho produtivo do homem; este trabalho passou a ser tudo; aquele, uma insignificante contribuição. Isso demonstra que a emancipação da mulher e a sua equiparação ao homem são e continuarão sendo impossíveis, enquanto ela permanecer excluída do trabalho produtivo social e confinada ao trabalho doméstico, que é um trabalho privado. A emancipação da mulher só se torna possível quando ela pode participar em grande escala, em escala social, da produção, e quando o trabalho doméstico lhe toma apenas um tempo insignificante. Esta condição só pode ser alcançada com a grande indústria moderna, que não apenas permite o trabalho da mulher em grande escala, mas até o exige, e tende cada vez mais a transformar o trabalho doméstico privado numa indústria pública.
FRIEDRICH ENGELS (28 de Novembro de 1820, 5 de Agosto de 1895)... empresário industrial e teórico revolucionário prussiano.
Resumo.: A emancipação da mulher só será possível quando ela puder participar da produção em larga escala social, e o trabalho doméstico não mais exigir nada além de uma quantidade insignificante de seu tempo.
Friedrich Engels