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terça-feira, 3 de outubro de 2023

The Psychological Mystique

Será que somos previsíveis e manipuláveis para o bem e para o mal. 
Repetindo...
Será que somos tão previsíveis e tão manipuláveis para o bem e para o mal.
A vida é  um caminho aberto a tudo.


Dostoiévski nos mostrava como sombras, às vezes circundadas por luz misteriosa, que andam pelo mundo.Seríamos nós previsíveis. Alguma teoria detém os segredos da vida psíquica.
Há toda uma tradição que crê ter descoberto o segredo de como nos moldar ou como moldar bons cidadão.
Esperança e o Desespero.
Seremos previsíveis. Alguma teoria detém os segredos da vida psíquica, ter o segredo de como nos moldar para que cheguemos onde muitos sao  capazes de nos levar. A imagem, multicolorida abaixo de Picasso, em cores vibrantes, no formato cubismo, apresenta vários rostos de simples figuras humanas estilizadas, em desenhos com traços ingênuos. Da esquerda para direita, olhos a primeira cabeça ao lado da segunda cabeça que é formada por rostos coloridos. Um livro que é uma verdadeira pérola para quem quer entender um pouco da nossa cultura contemporânea obcecada com os poderes da psicologia. 
The Psychological Mystique.
O autor tem dedicado parte da sua obra a investigar os efeitos perversos do que ele chama de "pop psychology, psicologia para consumo, tema que ele relaciona com a busca contemporânea pelo paraíso dos idiotas, título de outro livro dele.
No caso da mística psicológica, a investigação do método de educação do filósofo John Locke (1632-1704) é seu ponto de partida. E qual é esse método.
Pegue uma criança e ensine a ela boas ideias, porque a mente é formada por uma associação de ideias que lhe são dadas pelo meio à sua volta. Por sua vez, o método de introduzir boas ideias na cadeia de associação de ideias, que seria o modo de funcionamento da mente, moldará bons cidadãos, consumidores proativos, profissionais motivados, enfim, pessoas mais felizes e participativas.
Resumindo a ópera: somos previsíveis e manipuláveis para o bem e os maus nos manipulam para o mal. Simples assim.
Brilhantemente essa tese, do livro, não só para a pôr em dúvida no seu pressuposto que descobrimos como funciona nossa mente e podemos retirar dela muito potencial mas também para descrever alguns dos seus efeitos nefastos, senão ridículos. Comecemos por esta crítica. Aqui entra em cena um personagem importante: o duplamente sobrinho de Freud, duas vezes. O que isso significa? Edward Bernays era filho do irmão de Martha Bernays, nome de solteira da mulher do Freud, e da irmã do próprio Freud. Logo, sobrinho duas vezes do famoso médico vienense inventor da psicanálise, que, aliás, considerava o sobrinho um picareta, como todo americano.
O divã de Freud, mundialmente famoso, em reprodução de exposição virtual do Google, o psicanalista convidava seus pacientes a se deitar no sofá e a dizer o que lhes viesse à cabeça, sem reter pensamentos ou memórias que parecessem desagradáveis, triviais ou ridículos
O divã de Freud, mundialmente famoso, em reprodução de exposição virtual do Google; o psicanalista convidava seus pacientes a se deitar no sofá e a dizer o que lhes viesse à cabeça, sem reter pensamentos ou memórias que parecessem desagradáveis, triviais ou ridículos.
Sigmund Freud com um cão em seu estúdio, em Viena, em 1937, o psiquiatra foi o fundador da psicanálise, uma teoria de como a mente funciona e um método de ajudar as pessoas em sofrimento mental
Sigmund Freud com um cão em seu estúdio, em Viena, em 1937; o psiquiatra foi o fundador da psicanálise, uma teoria de como a mente funciona e um método de ajudar as pessoas em sofrimento mental.
E qual era sua picaretagem Dizendo-se herdeiro intelectual do seu tio que Freud negava veementemente, ele criou uma psicologia para as relações públicas e a propaganda. Bernays queria salvar o mundo vendendo cigarros Lucky Strike para mulheres emancipadas.
O psicanalista da opinião pública, como gostava de ser visto, fez campanhas envolvendo mulheres famosas, ricas e bonitas em Nova York na França, com a aristocracia feminina, em que essas celebridades eram fotografadas fumando Lucky Strike.
Feminista, ele entendia que podia emancipar as mulheres dando a elas o direito de ascender à condição de fumante de Lucky Strike. As vendas bombaram.
Eis a previsibilidade que Bernays pôs em prática e, desde a sua "descoberta", o mundo do marketing, das empresas, das relações-públicas, do coaching e da educação em geral repete a fórmula à exaustão do ridículo.
A primeira crítica, aquela que nega a previsibilidade humana a partir da modelagem das nossas ideias, é mais complexa. Não somos previsíveis nem quando fazemos o mal, mas podemos ser manipulados por cálculos estratégicos os mesmos de Bernays. Para essa crítica, o autor faz uma leitura primorosa de Dostoiévski.
O grande russo criou personagens permeados pela indeterminação infinita da alma e, por isso mesmo, por uma opacidade que é humilhada por teorias como a de Bernays. A polifonia vozes infinitas internas em contradição contínua, descrita por Mikhail Bakhtin (1895-1975) como sendo a marca dos personagens de Dostoiévski, é essa impermeabilidade à modelagem estratégica da alma.
Os personagens de Dostoiévski são profundos porque nem mesmo o narrador sabe o que eles pensam e sentem. Sombras, às vezes circundadas por uma luz misteriosa, que caminham pelo mundo, sofrendo, amando, matando este é o resultado.  Nós concordamos com Dostoiévski.