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domingo, 24 de novembro de 2024

Wishful thinking

Muitas vezes, porém, é difícil acreditar que algo realmente significativo saia desses encontros sobre o clima*COP. Se você compartilha dessa sensação, estamos juntos. Mas, como se trata de manter a aventura humana na Terra, aqui vai uma tentativa de resumão das últimas negociações, com alguns toques de acidez. Primeiro, há uma frustração que é muito compreensível. As negociações parecem andar a passos lentos enquanto os efeitos da crise climática se tornam impossíveis de ignorar. A ciência alerta há décadas sobre os perigos do aquecimento global, e, ainda assim, falhamos em agir preventivamente. Não importa se você mora num vilarejo esquecido ou num condomínio de luxo com vista para o mar: o caos climático já te encontrou. Às vezes, ele vem na necessidade de mais um ar condicionado, em outras, arrasta a sua casa pela correnteza..complicado uma COP29, realizada em um país petroleiro, em um ambiente marcado pela repressão a protestos e pela presença massiva de lobistas do setor de petróleo e gás em número suficiente para formar a quarta maior delegação da conferência. Se falta dinheiro para as petroleiras investirem na transição energética, talvez o RH precise rever os gastos com coffee breaks. O grande desafio deste ano foi decidir quem paga a conta da crise climática. Os países em desenvolvimento precisam urgentemente de pelo menos US$ 1 trilhão (R$ 5,79 trilhões) por ano para lidar com a crise. Esse valor é essencial tanto para compensar perdas e danos já causados quanto para investir em soluções de adaptação, como energia solar, sistemas de irrigação e a proteção de cidades contra inundações.
O problema, claro, é que essa quantia não aparece do nada. Além disso, a história nos mostra que mobilizar somas trilionárias em conjunto entre nações só aconteceu em contextos um tanto menos amigáveis: guerras. Não é à toa que o problema vem se arrastando por algumas edições da conferência.
Até tivemos momentos de esperança, quando o tema ganhou destaque no G20 no Brasil e cobrou-se que essa resolução fosse definida na COP 29. Mas, o resultado foi frustrante: a primeira versão do texto final era fraca e ambigua, falando em apoio de bilhões quando são necessários trilhões. Além do valor baixo de recursos públicos previstos para o momento, o tom foi de mudança nas responsabilidades dos países. O que parecia promissor saiu mais como um wishful thinking da salvação climática.
No território brasileiro ano que vem, COP 30 em Belém🇧🇷, podemos esperar, além de questões complexas, uma onda de protestos barulhentos, fruto das repressões das edições anteriores, em países mais rígidos. Historicamente, o Brasil teve destaque em negociações globais, como na construção da Agenda 2030. Com a Amazônia como palco, o país tem a oportunidade de liderar discussões sobre justiça climática e financiamento robusto. Afinal, se tem algo de que nos orgulhamos de saber fazer é improvisar soluções em cenários complicados. Quem sabe essa não seja a chance de transformar toda essa frustração climática em um plano de ação real... Seguimos fazendo planos caso o mundo não acabe.