MULHER NUA, de Nuno Júdice, 1949-2024, poeta português.
Procuro um adjec issotivo para cobrir o teu corpo, belo como o lençol da madrugada, e lento como o teu abrir de pálpebras
no instante de acordar. Vou buscá-lo a um armário de sinónimos, por entre
as palavras redondas do amor. Toco os teus lábios com as suas sílabas,
sentindo a branca humidade da noite
no leve murmúrio em que pousam os meus olhos. E vou descobrindo a luz
das palavras que tiro de cima de ti, para que apenas te cubra o adjectivo
que te veste, nua, nos braços que te procuram.
Imagem:
Eros e Psique, de François Gérard (1798)
Óleo sobre tela186×132 cm
Museu do Louvre, Paris.
Neste poema intitulado "Mulher Nua", o autor Nuno Júdice procura encontrar o adjetivo perfeito para descrever a beleza e sensualidade do corpo feminino. Através de metáforas poéticas que remetem à suavidade da madrugada e ao despertar da pessoa amada, o poeta procura nas palavras do amor a forma precisa de cobrir a nudez da mulher amada. A linguagem sensorial e cuidadosa utilizada por Júdice revela a intimidade e a admiração que sente pela figura feminina, mostrando a delicadeza e a ternura envolvidas no ato de descrever e apreciar a feminilidade. Este poema, assim, revela-se como uma ode à beleza e mistério do corpo feminino, explorando a poesia como forma de celebração e contemplação do amor e da sensibilidade humana.
Procurando no armário de sinónimos, encontro palavras redondas do amor para descrever o teu corpo belo e lento, como o lençol da madrugada e o abrir de pálpebras ao acordar.
Toco teus lábios com suas sílabas, sentindo a humidade da noite, o murmúrio leve onde repousam meus olhos.
Descubro a luz das palavras que retiro de cima de ti, para que apenas te cubra
o adjetivo que te veste,
nua, nos braços que te procuram.