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domingo, 13 de outubro de 2024

Sometimes people are beautiful

Às vezes as pessoas são bonitas.
Não na aparência.
Não no que dizem.
Só no que são.
Markus Zusak.
O Conceito do Comum: A Beleza no Mundano.
Em um mundo obcecado com o extraordinário, a palavra "comum" muitas vezes carrega uma conotação negativa. As pessoas tendem a recuar da noção de comum, associando-a ao tédio, rotina ou mediocridade. Ser extraordinário é destacar-se, deslumbrar-se, romper-se com o dia a dia da vida. No entanto, quando damos um passo atrás, podemos descobrir que o comum guarda uma beleza profunda, um encanto tranquilo que muitos dos maiores artistas, escritores e pensadores reconheceram e celebraram.
O comum como uma fonte de arte.
Algumas das mais belas obras de arte não retratam cenas grandiosas ou momentos épicos, mas sim celebram a simplicidade do dia a dia. O comum está elevado nas mãos de grandes artistas que encontram poesia no mundano. Considere a famosa pintura "Os comedores de batatas" de Vincent van Gogh, capturando um grupo de camponeses compartilhando uma simples refeição, suas expressões e gestos transmitindo uma sensação de dignidade tranquila.
Não há glamour ou opulência aqui, mas é profundamente comovente na sua representação de vidas comuns.
Van Gogh uma vez comentou numa carta para o seu irmão Theo: "Eu tentei enfatizar que estas pessoas, comendo as suas batatas na luz do candeeiro, cavaram a terra com as próprias mãos que estão colocando no prato, e por isso fala de trabalho manual e que eles têm honestamente ganharam a comida deles.

Neste trabalho, Van Gogh captura a essência da condição humana, onde o ato comum de comer uma refeição se torna uma meditação sobre o esforço, sobrevivência e comunidade. O mundano é transformado em algo bonito através do seu olhar atento, ensinando-nos a olhar mais atentamente para os momentos que muitas vezes ignoramos.
.Literatura e o cotidiano.
O mundo da literatura está igualmente cheio de exemplos de escritores que encontram beleza e significado no comum. Uma das reflexões mais profundas sobre o assunto vem de Marcel Proust, cujo trabalho monumental 'Em Busca do Tempo Perdido' é, no seu coração, uma meditação sobre a beleza do cotidiano.
Em sua famosa cena de madeleine, Proust escreve sobre como o simples ato de comer um biscoito encharcado de chá desencadeia uma inundação de memórias e emoções, transportando-o de volta à sua infância. A madeleine, um objeto comum, torna-se um símbolo do tempo, memória e passagem da vida.
Proust escreve: Mas quando de um passado muito distante nada subsiste, depois de as pessoas morrerem, depois de as coisas serem quebradas e dispersas, ainda assim, sozinhas, mais frágeis, mas com mais vitalidade, mais insubstancial, mais persistente, mais fiel, o cheiro e o sabor das coisas permanecem postos por muito tempo, como almas.
Através deste momento simples e comum, Proust revela a extraordinária riqueza da experiência humana. Sua escrita nos lembra que as maiores revelações da vida muitas vezes não vêm de eventos extraordinários, mas de prestar muita atenção aos detalhes do dia a dia.
.Reflexões Filosóficas sobre o Ordinário.. Filósofos também se depararam com o conceito do ordinário e seu significado. Ludwig Wittgenstein, um dos filósofos mais influentes do século XX, acreditava que a linguagem comum e diária que usamos é a chave para compreender o mundo. Ele argumentou que as verdades mais importantes estão muitas vezes escondidas à vista de todos, incorporadas no tecido da nossa vida diária e linguagem.
Em Investigações Filosóficas, Wittgenstein escreveu famosamente: "Os aspectos das coisas que são mais importantes para nós estão escondidos devido à sua simplicidade e familiaridade.
O trabalho de Wittgenstein sugere que o ordinário não é algo a ser rejeitado, mas algo a ser examinado atentamente. Ele nos exorta a olhar para o comum com novos olhos, como é através do comum que passamos a compreender verdades mais profundas sobre nós mesmos e sobre o mundo.
Simone Weil, uma filósofa e mística francesa, também viu grande valor no comum. Ela acreditava que a atenção aos aspectos mundanos da vida poderia levar ao despertar espiritual. Weil argumentou que através da atenção aos atos simples e cotidianos - quer seja trabalho manual ou rituais diários - poderíamos cultivar uma sensação mais profunda de presença e conexão com o mundo ao nosso redor.
Em seu ensaio Esperando por Deus, Weil escreve: A atenção é a forma mais rara e pura de generosidade.
A ênfase de Weil na atenção reflete a ideia de que o comum pode ser uma fonte de profundos conhecimentos e significado se estivermos dispostos a olhar atentamente e a envolver-nos profundamente com ele.
O Extraordinário no Comum..Então, por que é que muitas vezes nos afastamos do comum? Talvez seja porque o extraordinário promete excitação e fuga, enquanto o comum nos pede para ficarmos quietos e prestar atenção. O comum requer paciência, observação e disposição para se envolver com a vida tal como ela é, em vez de como desejamos que ela seja. Numa cultura que premia velocidade, novidade e espetáculo, o comum pode parecer aborrecido em comparação. No entanto, como estes artistas, escritores e filósofos nos mostraram, o ordinário contém o seu próprio tipo de magia.
Na realidade, a linha entre o comum e o extraordinário é muitas vezes turva. O que é extraordinário para uma pessoa pode ser completamente comum para outra, dependendo da sua perspectiva e experiências. O simples ato de ver um pôr do sol, partilhar uma refeição ou caminhar por um bairro familiar pode, nas condições certas, sentir-se tão inspirador como qualquer grande aventura. O truque é aprender a vê-lo e cultivar o hábito de encontrar beleza no mundano.
Como o poeta americano Wallace Stevens observou uma vez: "Talvez a verdade dependa de um passeio ao redor do lago".
Uma simples caminhada ao redor de um lago pode revelar verdades que poderíamos ignorar na correria da vida diária. Ao prestarmos atenção ao mundo ao nosso redor, podemos encontrar beleza, significado e até transcendência no lugar mais comum das experiências.
Reflexão...O conceito do comum desafia-nos a reconsiderar o que valorizamos e o que prestamos atenção em nossas vidas. Enquanto a sociedade muitas vezes nos impulsiona a procurar o extraordinário, muitos dos momentos mais significativos da vida são encontrados no comum - se tirarmos tempo para reparar neles. Seja através da arte, literatura ou filosofia, o comum tem sido uma fonte de inspiração e perspicácia para inúmeras grandes mentes. Ao abraçar o comum, podemos aprender a ver a beleza no cotidiano e reconhecer que o extraordinário não é algo que devemos sempre perseguir, mas algo que muitas vezes está bem à nossa frente. Quantas vezes vocês param para apreciar os momentos comuns das vossas vidas.
Vincent van Gogh